A linguagem neutra tem um papel relevante nos debates sobre comunicação inclusiva. Mais do que uma questão gramatical, ela representa um esforço coletivo para reconhecer identidades que não se encaixam no modelo binário de gênero. 

Ao mesmo tempo, cresce a preocupação com a acessibilidade comunicacional, especialmente para pessoas com deficiência. Incluir não é apenas escrever de forma neutra, mas também garantir que a mensagem seja compreensível a todos, inclusive à comunidade surda, usuária da Língua Brasileira de Sinais (Libras). 

Nesse contexto, ferramentas que ampliam o acesso à informação e promovem a acessibilidade são grandes aliadas das empresas que buscam cumprir exigências legais e criar ambientes mais diversos.  

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O que é linguagem neutra? 

A linguagem neutra é uma proposta de adaptação linguística que busca tornar a comunicação mais inclusiva, especialmente em relação às pessoas que não se identificam com os gêneros masculino ou feminino. Em vez de usar expressões como “todos” ou “todas”, propõe-se o uso de formas neutras como “todes”, “todxs” ou “tod@s”. 

O principal objetivo da linguagem neutra é combater o sexismo estrutural presente na forma tradicional de escrever e falar, ampliando o reconhecimento de identidades de gênero não binárias. Ela visa oferecer um espaço de fala mais igualitário, onde ninguém seja invisibilizado pela linguagem. 

Embora seja alvo de debates e resistências, inclusive por parte de setores que defendem a manutenção da norma culta da língua portuguesa, a linguagem neutra se consolida como uma ferramenta política e social. É um movimento que entende a linguagem como um reflexo da sociedade e, portanto, em constante transformação. 

Além das formas “x” e “@”, que dificultam a leitura por pessoas com deficiência visual, o uso da vogal “e” (como em “alunes”, “amigues”, “todes”) tem se mostrado a alternativa mais acessível e funcional, inclusive em sistemas digitais com leitura de tela. 

Quem criou a linguagem neutra? 

A linguagem neutra não tem um único criador ou origem formal. Trata-se de uma construção coletiva, surgida a partir das demandas de grupos sociais que historicamente ficaram à margem da norma linguística tradicional, especialmente pessoas trans, não binárias e ativistas LGBTQIAPN+. 

Seus primeiros registros informais começaram a aparecer nas redes sociais e em fóruns de militância no início dos anos 2000, principalmente em países de língua espanhola, como Argentina e Chile, que enfrentavam debates semelhantes. A forma “x” (como em “todxs”) foi uma das primeiras a surgir, como símbolo de rompimento com o binarismo de gênero. 

No Brasil, a linguagem neutra ganhou força por volta de 2015, impulsionada por movimentos sociais, coletivos estudantis e pela visibilidade crescente das identidades trans e não binárias. A criação de termos como “elu”, “delu” e “amigue” foi resultado da tentativa de oferecer alternativas mais naturais à estrutura do português. 

Com o tempo, surgiram manuais, propostas pedagógicas e estudos acadêmicos voltados ao uso neutro da linguagem. A linguagem neutra não nasceu em instituições oficiais, mas como uma resposta popular à exclusão provocada pela linguagem normativa. Ela continua a evoluir, moldada pelo uso cotidiano e pelas contribuições de diferentes grupos sociais. 

Apesar das polêmicas que cercam seu uso, a linguagem neutra já está presente em diversos contextos do dia a dia, especialmente em ambientes educativos, culturais, artísticos e em redes sociais.  

Seus formatos variam, mas o objetivo é sempre o mesmo: tornar a comunicação mais acolhedora e menos excludente para pessoas que não se identificam com os gêneros masculino ou feminino. 

Como falar em linguagem neutra? 

Falar em linguagem neutra exige atenção e prática, tanto na comunicação escrita quanto na oral. A proposta é substituir expressões marcadas por gênero por formas mais inclusivas, que acolham identidades não-binárias sem comprometer a comunicação. No português, isso pode ser feito com algumas adaptações simples. 

Substituindo terminações “o” e “a” pela vogal “e”

Na linguagem escrita, uma das formas mais comuns de neutralizar o gênero é substituir as terminações “o” e “a” pela vogal “e”, como exemplificamos anteriormente. Essa forma tem se mostrado mais acessível, inclusive para leitores de tela, em comparação com outras grafias como “@” ou “x”, que dificultam a leitura automatizada por pessoas com deficiência visual.  

Substituindo expressões binárias por termos coletivos ou neutros

Além disso, é possível substituir expressões binárias por termos coletivos ou neutros: em vez de escrever “alunos e alunas”, pode-se usar “estudantes”, “pessoas” ou “turma”. Na comunicação falada, o uso de pronomes neutros como “elu”, “delu” e “nile” tem ganhado espaço em círculos sociais e profissionais mais sensíveis às questões de gênero. 

Reformulando frases

Reformular frases também é uma estratégia útil: “quem tiver interesse deve comparecer” substitui “o interessado deve comparecer”, mantendo a objetividade e ampliando a inclusão. 

É natural que no início algumas dessas adaptações soem estranhas, especialmente porque não fazem parte da norma culta oficial. No entanto, como toda mudança linguística, o uso recorrente contribui para a familiarização e aceitação social.  

O mais importante é manter a escuta ativa, o respeito pelas identidades de gênero e a disposição para tornar a linguagem um instrumento de inclusão real. 

Investir em recursos de inclusão linguística é um passo estratégico para melhorar a comunicação nas empresas. Saiba como o ICOM te ajuda a ter um ambiente corporativo mais inclusivo.

 

Quais são os recursos linguísticos indicados? 

Para que a linguagem neutra cumpra seu papel de inclusão sem comprometer a clareza e a acessibilidade, é fundamental utilizar recursos linguísticos adequados ao contexto e ao público. Não se trata apenas de trocar letras ou inventar palavras, mas de comunicar de forma ética, compreensível e respeitosa com todas as pessoas envolvidas.

A seguir, estão alguns recursos linguísticos recomendados para quem deseja adotar a linguagem neutra de maneira eficaz: 

  • Uso de substantivos coletivos ou neutros: substituir expressões como “alunos e alunas” por “estudantes”, ou “cidadãos e cidadãs” por “pessoas”; 
  • Emprego da vogal “e” para neutralização de gênero: aplicar formas como “todes”, “amigues” e “alunes”, que são lidas por leitores de tela e compreendidas com facilidade; 
  • Reformulações que eliminam a necessidade de marcação de gênero: em vez de “o interessado deve comparecer”, dizer “quem tiver interesse deve comparecer”. Trocar o termo “Pais” por “Responsáveis” e “Professores” por “Docentes”, por exemplo; 
  • Uso de pronomes neutros nos contextos que aceitam essa flexibilidade: pronomes como “elu”, “delu” e “nile” podem ser adotados de forma respeitosa, especialmente quando a pessoa se identifica dessa maneira; 
  • Emprego da linguagem inclusiva em contextos institucionais: evitar vocativos como “senhoras e senhores” e optar por “público presente”, “equipe”, “colegiado”, entre outros; 
  • Evitar os símbolos “@” e “x”: como já abordado, esses símbolos dificultam a leitura por pessoas com deficiência visual e não devem ser usados em contextos em que a acessibilidade é uma prioridade. 

Esses recursos podem ser adaptados conforme o ambiente em que se comunicam, respeitando sempre a clareza da mensagem e a acessibilidade da comunicação. O importante é que a linguagem neutra não seja apenas uma escolha estética, mas uma prática consciente de inclusão e acessibilidade. 

Quais os problemas com a linguagem neutra? 

Embora a linguagem neutra seja uma ferramenta importante para promover inclusão e visibilidade a identidades não-binárias, ela também enfrenta críticas, controvérsias e desafios práticos em sua adoção. Essas dificuldades vêm de diferentes áreas, desde a linguística até o cenário político e jurídico. 

Uma das principais críticas parte de setores que defendem a manutenção da norma culta da língua portuguesa. Para esses grupos, a linguagem neutra representa uma ameaça à estrutura formal do idioma, por criar formas que não seguem os padrões gramaticais reconhecidos por instituições oficiais como a Academia Brasileira de Letras.  

Argumenta-se que o uso indiscriminado dessas novas formas pode comprometer a inteligibilidade e a coesão do texto, especialmente em contextos formais como documentos públicos, concursos ou ambientes jurídicos. 

Outro desafio relevante é a falta de padronização. Não há consenso sobre qual forma deve ser usada (“todes”, “todxs”, “tod@s”, entre outras) e isso pode gerar confusão, principalmente entre pessoas que não estão familiarizadas com o debate.  

Essa diversidade de formas também impacta negativamente a acessibilidade digital, como já discutido, ao dificultar a leitura por leitores de tela e comprometer a compreensão por pessoas com dislexia ou outros transtornos cognitivos. 

Além disso, a linguagem neutra passou a ser alvo de disputas ideológicas no Brasil. O debate, portanto, muitas vezes deixa de ser técnico ou educacional para se tornar um embate político entre visões conservadoras e progressistas

Por fim, há o desafio da implementação prática. Mesmo pessoas aliadas à causa da inclusão podem ter dificuldade em adaptar sua comunicação. Isso reforça a necessidade de educação linguística, formação continuada e diálogo aberto sobre os benefícios e limitações do uso neutro da linguagem. 

Linguagem neutra e inclusiva é possível? 

A possibilidade de uma linguagem neutra e inclusiva é tema central no debate sobre comunicação contemporânea. De um lado, estão os que defendem que a língua portuguesa é flexível, viva e adaptável às transformações sociais; de outro, os que consideram que mudanças estruturais exigem cautela, estudo e reconhecimento formal. Ainda assim, há um ponto de convergência: a linguagem precisa servir a todas as pessoas

A viabilidade da linguagem neutra depende de uma série de fatores. Do ponto de vista técnico, é possível empregar recursos linguísticos que tornem a comunicação mais inclusiva, sem necessariamente violar regras da norma culta.  

Reformulações simples, uso de termos coletivos e pronomes neutros em contextos informais já são estratégias adotadas por muitas pessoas, instituições e movimentos. O desafio maior está na aceitação ampla dessas práticas, especialmente em espaços formais, educacionais ou corporativos. 

A resistência existe, mas está longe de ser absoluta. Universidades, coletivos culturais, organizações do terceiro setor e plataformas digitais vêm incorporando a linguagem neutra em suas comunicações.  

Além disso, a adesão por parte de pessoas jovens e usuárias da internet demonstra que há uma mudança geracional em curso. Assim como outras transformações linguísticas que ocorreram ao longo da história, o uso de formas neutras tende a se consolidar à medida que ganham legitimidade social e respaldo técnico. 

Conclusão 

A linguagem neutra é uma proposta de transformação da comunicação, com foco na representatividade e na inclusão de todas as identidades de gênero. Seu uso ainda gera debates e polêmicas, mas reflete uma sociedade que busca se expressar com mais respeito e consciência. 

Com escolhas simples e práticas, é possível tornar a linguagem mais empática e acolhedora. O desafio está em equilibrar clareza, acessibilidade e inclusão.  

E é exatamente nesse ponto que iniciativas como a do Icom se destacam, ampliando o alcance de mensagens por meio da interpretação em Libras e da tecnologia a favor da inclusão e diversidade.

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