“A comunicação é o que nos torna humanos — mas para milhões de brasileiros, ela ainda é uma barreira.”
Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2019) 

De acordo com a Tabela 8223 da Pesquisa Nacional de Saúde, publicada pelo IBGE em 2022, existem 10.787.458 pessoas com algum grau de deficiência auditiva no Brasil. Desse total, 8,4 milhões têm alguma dificuldade para ouvir, enquanto 2,3 milhões vivem com muita dificuldade ou não conseguem ouvir de modo algum. Ainda entre as pessoas com deficiência auditiva severa de 5 a 40 anos, apenas 22,4% conheciam Libras, mas isso não significa que eram alfabetizadas na linguagem — índice que reforça o desafio da comunicação acessível no país. 

Em um cenário como esse, a exclusão comunicacional deixa de ser invisível e passa a ser mensurável: milhões de pessoas estão fora das conversas, dos treinamentos, das entrevistas e dos atendimentos mais básicos. E, as empresas que desejam cumprir a Lei de Cotas com responsabilidade social, precisam ir além do número de contratações. 

Incluir é comunicar. O ICOM foi criado para preencher essa lacuna, oferecendo uma plataforma de atendimento em Libras que viabiliza reuniões, atendimentos e interações reais entre surdos e ouvintes — com tradução simultânea e sem barreiras. 

Neste artigo, você vai entender o que é a Língua Brasileira de Sinais (Libras), como ela funciona e por que ela é essencial para tornar ambientes mais inclusivos e acessíveis — inclusive no seu negócio. 

Qual é a língua de sinais? 

No Brasil, a língua de sinais oficial é a Libras (Língua Brasileira de Sinais). Trata-se de uma forma de comunicação visual utilizada, principalmente, pela comunidade surda. Diferente da linguagem oral, ela se manifesta por meio de gestos, expressões faciais, movimentos das mãos, corpo e até o olhar. Essas expressões constituem um sistema de sinais que representam palavras, conceitos, emoções e ideias. 

É importante destacar que a língua de sinais não é apenas uma forma gestual das línguas faladas, mas sim um sistema linguístico completo, com sua própria gramática, sintaxe e regras específicas. 

Pesquisas linguísticas modernas comprovam que as línguas de sinais atendem a todos os critérios que definem uma língua natural, possibilitando a formação de inúmeras sentenças por meio de regras gramaticais e evoluem continuamente, incorporando novos termos e expressões para atender às necessidades comunicativas da comunidade surda.  

A língua de sinais é essencial para garantir o direito à comunicação e à inclusão social. Pessoas surdas enfrentam, muitas vezes, barreiras na comunicação com quem não conhece seu idioma. A língua de sinais promove autonomia, interação social e participação plena na sociedade, seja no trabalho, na escola ou na vida cotidiana. 

Quem criou a língua de sinais? 

A origem da língua de sinais remonta a tempos antigos, com registros históricos que apontam para sinais utilizados por comunidades surdas em diversas civilizações ao longo do tempo. No entanto, a língua de sinais moderna, como a conhecemos hoje, começou a se consolidar no século XVIII. 

Nesta época, na França, o padre Charles-Michel de l’Épée, considerado um pioneiro, fundou a primeira escola de surdos. Isso foi fundamental para o desenvolvimento de uma estrutura de sinais alfabetizada, influenciando os sistemas de comunicação para surdos na França.  

Posteriormente, o método de sinais desenvolvido na França foi adaptado e evoluiu em outros países, dando origem a diferentes línguas de sinais. 

E no Brasil? 

A Libras (Língua Brasileira de Sinais) tem uma origem única e importante no Brasil. Ela se desenvolveu a partir de práticas de comunicação de comunidades surdas brasileiras, influenciada por línguas de sinais de outros países, especialmente a ASL (Língua de Sinais Americana), devido ao contato internacional e às missões de educação de surdos no Brasil.  

Sua origem remonta ao século XIX, com a criação do Instituto Imperial de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro, em 1855, que adotou e adaptou sinais utilizados pelo método francês de educação de surdos, o método de L’École de Jacques-Philippe Marie (método francês de sinais). 

Ao longo do tempo, a Libras evoluiu, incorporou elementos culturais brasileiros e se consolidou como uma língua de sinais própria, reconhecida oficialmente pelo Governo brasileiro em 2002, com a Lei nº 10.436

Como a língua de sinais funciona? 

A língua de sinais, independentemente do país ou comunidade onde é utilizada, possui uma estrutura própria e regras específicas que envolvem diversos elementos. Primeiramente, os gestos e sinais são realizados por meio do movimento das mãos, que representam palavras ou conceitos.  

Cada sinal combina uma configuração específica das mãos, um movimento e uma localização no espaço, formando um sistema organizado de signos. Por exemplo, na Libras, o sinal para “aprender” envolve a mão em forma de “C” que se move da testa para frente, simbolizando o conhecimento saindo da mente. 

Expressões faciais 

As expressões faciais têm um papel fundamental, pois indicam perguntas, emoções ou partículas gramaticais. Por exemplo, sobrancelhas levantadas geralmente sinalizam perguntas de sim/não, enquanto sobrancelhas franzidas podem indicar perguntas mais específicas, como “quem”, “como” ou “por quê”. Além disso, a intensidade das expressões faciais pode modificar o significado de um sinal, demonstrando graus comparativos ou superlativos. 

Postura corporal 

A postura corporal também é essencial, ajudando a contextualizar a mensagem. Uma inclinação para frente ou para trás pode indicar tempos verbais, como o futuro ou o passado, ou estabelecer referências espaciais para pessoas ou objetos discutidos na conversa. 

Espaço e localização  

O espaço e localização desempenham um papel importante na estrutura da língua de sinais. Os sinais variam conforme a direção e o espaço ao redor do sinalizador. O espaço à frente do comunicador funciona como um “palco mental”, onde referentes como pessoas, objetos ou locais são posicionados. Durante a conversa, o sinalizador pode apontar para esses locais para manter referências sem precisar repetir o sinal completo. 

Classificadores  

Classificadores são estruturas visuais que representam objetos, pessoas ou ações com configurações específicas das mãos. Funcionam como “descrições visuais”, mostrando características físicas, movimentos ou posições relativas ao que está sendo comunicado. 

Por exemplo, um classificador usado na Libras para representar um veículo se movendo em zigue-zague, envolveria uma mão em uma configuração específica movendo-se lateralmente. 

Vale lembrar que, ao contrário das línguas orais sequenciais, as línguas de sinais podem expressar informações gramaticais diferentes de forma simultânea.  

Por exemplo, enquanto as mãos fazem um sinal, a expressão facial pode indicar um advérbio de modo, como “rapidamente” ou “lentamente”. Essa capacidade de simultaneidade enriquece a comunicação, possibilitando transmitir diversas camadas de significado ao mesmo tempo. 

A comunicação em línguas de sinais é visual e tridimensional, utilizando o espaço e o movimento para construir frases completas e ideias complexas. Trata-se de um sistema dinâmico, rico e altamente expressivo, que utiliza uma combinação de movimentos, expressões faciais e uso do espaço para transmitir significados precisos e complexos de forma fluida e natural. 

A língua de sinais é universal? 

Muitos acreditam que todas as línguas de sinais são universais, mas isso não é verdade. Assim como as línguas faladas, as línguas de sinais variam de país para país, refletindo diferenças culturais, históricas e regionais.  

Essa ideia equivocada surge da percepção de que, por serem sistemas visuais, seriam facilmente compreendidas por qualquer pessoa surda, independentemente de sua origem, o que não corresponde à realidade. 

Na prática, as línguas de sinais se desenvolveram naturalmente em comunidades surdas diversas, assim como as línguas orais ao redor do mundo. Cada uma possui seu próprio vocabulário, gramática, expressões idiomáticas e regras, que refletem a história, valores e tradições culturais de sua comunidade utilizadora. 

Garantir acessibilidade comunicacional é mais do que um diferencial — é parte essencial do cumprimento da legislação trabalhista. Se a sua empresa já contrata colaboradores com deficiência, mas ainda enfrenta barreiras na comunicação, vale conhecer uma solução eficaz e prática. 

Descubra como incluir colaboradores surdos com apoio da Lei de Cotas e da plataforma ICOM — e transforme sua comunicação interna em uma ponte, não em um obstáculo. 

Quais são os tipos de línguas de sinais? 

Há mais de 300 línguas de sinais diferentes em uso ao redor do mundo, cada uma com suas particularidades e contextos específicos de utilização. Essa diversidade demonstra a riqueza linguística das comunidades surdas globais e reflete diferentes trajetórias históricas, culturais e sociais. A seguir, alguns exemplos representativos dessa variedade: 

1. Línguas de sinais nativas 

Desenvolvidas naturalmente pelas comunidades surdas, essas línguas formam sistemas completos e autônomos de comunicação, com regras de gramática, sintaxe e vocabulário próprios. São reconhecidas linguísticamente como idiomas plenos e, em muitos casos, possuem reconhecimento legal. Exemplos importantes incluem: 

  1. Libras (Língua Brasileira de Sinais): utilizada por cerca de 2 milhões de brasileiros surdos; 
  2. ASL (American Sign Language): adotada nos Estados Unidos e partes do Canadá; 
  3. BSL (British Sign Language): usada no Reino Unido; 
  4. LSF (Langue des Signes Française): língua de sinais francesa; 
  5. Auslan (Australian Sign Language): língua de sinais na Austrália; 
  6. JSL (Japanese Sign Language): usada no Japão; 
  7. LSE (Lengua de Signos Española): língua de sinais espanhola. 

 
Cada uma apresenta características distintas entre si. Por exemplo, enquanto a LSF influenciou historicamente a ASL, a BSL evoluiu de forma independente, resultando em línguas de sinais completamente diferentes, mesmo quando são utilizadas em países que compartilham o mesmo idioma falado (inglês). 

2. Línguas de sinais de países específicos 

Cada país costuma ter uma língua de sinais oficial reconhecida por lei ou tradição, refletindo sua cultura e história. Algumas dessas línguas apresentam subdivisões regionais relevantes, como:  

  • Na China, que existem diversas variantes regionais, como CSL (Chinese Sign Language) do Norte e do Sul, com diferenças consideráveis; 
  • Na Índia, que existem, pelo menos, cinco línguas de sinais regionais diferentes; 
  • Já na Alemanha, existe a DGS (Deutsche Gebärdensprache), apresentando variações dialetais entre regiões por questões culturais de cada uma delas. 


O grau de reconhecimento oficial varia bastante: enquanto países como Brasil, Portugal, Estados Unidos e Suécia reconhecem suas línguas de sinais como idiomas oficiais e os protegem legalmente, outros ainda lutam por esse reconhecimento e pelo apoio governamental adequado. 

3. Línguas de sinais regionais ou dialetos 

Em uma mesma língua de sinais, podem existir variações regionais ou dialetos que refletem diferenças culturais ou sociais. Essas variações podem envolver: 

  • Dialetos regionais: diferentes sinais ou pronúncias para os mesmos conceitos, dependendo da região; 
  • Socioletos: variações baseadas em grupos sociais, idade ou contexto de ensino; 
  • Variações étnicas: comunidades surdas de diferentes origens étnicas podem desenvolver suas próprias formas da língua considerando aspectos culturais. 

Por exemplo, na Libras, há diferenças consideráveis entre os sinais utilizados no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Sinais para alimentos, cores ou cumprimentos podem variar bastante entre essas regiões, enriquecendo a língua e refletindo a diversidade cultural brasileira. 

4. Línguas de sinais indígenas ou de comunidades isoladas 

Algumas comunidades com alta incidência de surdez hereditária desenvolveram línguas próprias, muitas vezes utilizadas por surdos e ouvintes. Exemplos notáveis incluem: 

  • Língua de Sinais de Martha’s Vineyard: usada na ilha de Martha’s Vineyard (EUA) até o início do século XX; 
  • Língua de Sinais Kata Kolok: falada na aldeia de Bengkala, em Bali, Indonésia; 
  • Língua de Sinais Al-Sayyid Bedouin: criada entre comunidades beduínas no deserto do Negev e Israel. 

Essas línguas oferecem valiosas percepções sobre como as línguas de sinais evoluem naturalmente em comunidades onde há uma necessidade de comunicação forte e consolidada. 

5. Línguas de sinais internacionais 

São sinais utilizados em contextos globais e entre diferentes países, como a IS (International Sign). Elas não são línguas completas, mas sistemas simplificados que facilitam a comunicação em encontros internacionais, competições esportivas como as Surdolimpíadas e conferências mundiais.  

O IS combina elementos de várias línguas de sinais e usa gestos iconográficos, pantomimas e sinais comuns, priorizando a compreensão rápida, embora não substituam uma língua de sinais nacional. 

6. Línguas de sinais táticas ou de contexto 

Usadas em situações específicas onde a comunicação oral ou verbal é limitada, ou impossível, como: 

  • Sinais militares: utilizados em operações táticas para comunicação silenciosa e rápida; 
  • Sinais de mergulho: sistemas de comunicação visual entre mergulhadores sob água; 
  • Sinais religiosos: formas de comunicação utilizadas em comunidades monásticas ou ambientes onde o silêncio é fundamental, como votos de silêncio.

Embora não sejam línguas completas no sentido linguístico, esses sistemas de sinais são estruturas visuais altamente organizadas e adaptadas às necessidades específicas de comunicação nesses contextos. 

Qual a diferença entre Libras e língua de sinais? 

A Língua de Sinais é um termo genérico que se refere a qualquer sistema de comunicação visual usado por uma comunidade surda ou de sinais.  

Este termo engloba todas as formas de comunicação visual-gestual estruturada utilizada por comunidades surdas, independentemente do país ou região. É como falar em “língua oral” – um conceito que inclui português, inglês, espanhol, mandarim e centenas de outros idiomas falados. 

Já a Libras é a língua de sinais oficial do Brasil, possui particularidades linguísticas e culturais que refletem a identidade e a história dos surdos brasileiros, com vocabulário e expressões próprias que se relacionam com a cultura nacional. 

É importante destacar que Libras não é uma versão em sinais do português, mas um idioma completo com estrutura própria. Embora exista influência do português em alguns aspectos (como em empréstimos linguísticos ou na soletração manual), a Libras tem uma gramática visual-espacial que funciona de maneira fundamentalmente diferente da estrutura linear do português falado ou escrito. 

Conclusão 

A língua de sinais é muito mais do que um conjunto de gestos: trata-se de um sistema linguístico completo, capaz de transmitir qualquer nuance de pensamento, sentimento ou conceito, com gramática, léxico e estruturas próprias.  

Conhecer sua história, compreender seu funcionamento e valorizar sua diversidade, seja na Libras ou em qualquer outra língua de sinais, é um passo fundamental para construir ambientes verdadeiramente inclusivos, em que pessoas surdas tenham acesso pleno à educação, ao mercado de trabalho e aos serviços de saúde.  

Incorporar práticas de acessibilidade, como treinamentos em Libras, intérpretes e materiais de comunicação visual-espacial, demonstra responsabilidade social e também amplia o alcance de empresas e instituições, estreitando laços e gerando inovação.  

Assim, seja no dia a dia, em reuniões de equipe ou em estratégias de negócios, promover a língua de sinais é investir na equidade, na empatia e na riqueza cultural de toda a sociedade.  

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