Descobrir como criar um processo seletivo mais inclusivo é o jeito certo de promover a diversidade, fortalecer a cultura organizacional e impulsionar a inovação na sua empresa. No entanto, a inclusão de pessoas com deficiência, especialmente surdos, exige adaptações e conscientização por parte das organizações. Só dessa forma é possível garantir que todos tenham igualdade de oportunidades.

Como cita Maiza Neville, especialista em diversidade geracional, a diversidade no meio corporativo amplia a inteligência coletiva da organização. Por meio da inclusão, a equipe tem visões mais amplas que propiciam decisões mais assertivas e soluções mais criativas. O que revela a importância de criar processos seletivos inclusivos e que prezam pela diversidade de candidatos.

Por isso, se você deseja transformar seu processo de recrutamento e abrir as portas para talentos diversos, continue lendo este artigo. Entenda o que é um processo seletivo inclusivo, qual a diferença do tradicional, sua importância, como criá-lo, benefícios e muito mais.

O que é processo seletivo inclusivo?

Um processo seletivo inclusivo é aquele que tem o objetivo de promover a igualdade de oportunidades para candidatos de diferentes perfis. A isso se incluem as pessoas com deficiência (PCD), negros, mulheres, idosos e demais grupos que tradicionalmente são sub-representados.

Portanto, a ideia central dessa atitude é eliminar barreiras físicas, comunicacionais e culturais que possam impedir a participação plena de todos os candidatos. Assim, é possível garantir um ambiente de trabalho que seja efetivamente mais diverso e representativo.

Em relação à inclusão de pessoas surdas, o processo seletivo inclusivo implica na adoção de estratégias que consideram as particularidades dessa população. Entre elas, está o uso de Libras (Língua Brasileira de Sinais), intérpretes, materiais acessíveis e uma comunicação clara. Desse modo, o candidato pode demonstrar suas habilidades e competências sem que haja obstáculos.

Com essas medidas, a empresa está mais apta a alcançar o objetivo de criar uma experiência de recrutamento que realmente valorize a diversidade e reconheça o potencial de cada pessoa, independentemente de quais forem as suas limitações.

Qual a diferença de recrutamento inclusivo e recrutamento tradicional?

O recrutamento tradicional costuma seguir um padrão. Em geral, ele se baseia em processos escritos, entrevistas presenciais e avaliações que não consideram as necessidades específicas de candidatos com deficiência. Além disso, o mais comum é que se faça uso apenas de canais convencionais, como anúncios em jornais, sites de emprego e entrevistas presenciais, sem adaptações para diferentes perfis de candidatos. 

Por sua vez, o recrutamento inclusivo busca eliminar barreiras e criar condições de acessibilidade para todos os candidatos. Para tanto, utilizam-se recursos como vídeos com legendas, intérpretes de Libras, materiais em formatos acessíveis, além de treinamento para recrutadores sobre diversidade e inclusão. No caso de candidatos surdos, o uso de Libras, com a disponibilização de intérpretes durante as etapas do processo e a adaptação de dinâmicas de seleção são essenciais.

Dessa forma, é possível dizer que as principais diferenças entre ambos os processos seletivos está a acessibilidade para diferentes públicos. Afinal, enquanto no tradicional há pouca ou nenhuma adaptação para a deficiência, o inclusivo foca principalmente nessa questão.

O mesmo ocorre com o uso de Libras, pois no modelo tradicional o recurso é inexistente e no recrutamento inclusivo há intérpretes e materiais acessíveis. O fator diversidade também indica o quanto ambos os processos são distintos. No tradicional, o perfil dos candidatos está limitado às populações convencionais, mas o inclusivo dá ênfase a diversos grupos.

A comunicação muda bastante de um processo a outro, pois o tradicional conta somente com textos escritos e entrevistas presenciais. Já o inclusivo oferece uma comunicação diversificada e acessível para candidatos com diferentes perfis.

Por fim, a cultura organizacional é muito distinta em empresas que adotam um ou outro modelo, sendo que as organizações que adotam métodos tradicionais de seleção tendem a reforçar exclusões. Por outro lado, negócios que promovem processos inclusivos respeitam e valorizam a diversidade e se beneficiam diretamente da equipe diversa.

A especialista em diversidade geracional aponta que na atualidade não pensar em compor equipes diversas é incorrer no risco de ficar para trás no mercado.

Qual a importância do recrutamento inclusivo nas empresas?

Implementar práticas de recrutamento inclusivo traz benefícios que vão muito além do cumprimento das legislações. Afinal, as empresas que adotam essa postura fortalecem sua cultura organizacional ao estimularem o respeito, a empatia e a valorização da diversidade.

Além disso, promovem ambientes de trabalho mais inovadores, capazes de pensar diferentes perspectivas e soluções criativas. Uma pesquisa da McKinsey destaca que equipes diversificadas, contemplando diferentes etnias, gêneros e pessoas com deficiência, são até 35% mais propensas a superar a média do setor em desempenho financeiro.

Essa diversidade reúne múltiplas perspectivas e experiências que fomentam soluções mais criativas e eficazes, impulsionando a inovação nas organizações. Por exemplo, equipes multiculturais do Google desenvolveram um software que aumentou a produtividade dos usuários em 25%, evidenciando como a diversidade potencializa resultados concretos.

Já um relatório da Deloitte indicou que ambientes inclusivos são mais propensos a gerar inovação e colaboração, essenciais para adaptação em mercados dinâmicos. O Sebrae também defende as medidas inclusivas ao reforçar que elas promovem o alto desempenho da equipe, porque trazem diferentes formas de pensar e abordar desafios, gerando soluções mais ousadas.

A interação de profissionais com diferentes origens favorece ainda a empatia e um senso de pertencimento, fortalecendo o coletivo. Assim, a colaboração em equipes diversas acelera processos decisórios e aumenta a capacidade de adaptação às mudanças do mercado. Por consequência, isso significa para as empresas uma maior competitividade e reputação positiva perante a sociedade.

Como criar um processo seletivo mais inclusivo?

É importante entender que transformar o processo seletivo da sua empresa para um recrutamento mais inclusivo não exige apenas planejamento e ações concretas. Também é importante que haja sensibilidade por parte da equipe responsável por isso.

De todo o modo, é necessário seguir algumas etapas para tornar sua seleção mais acessível e acolhedora para profissionais surdos e outros grupos diversos. Então, confira quais são as principais a seguir:

Invista na capacitação da equipe de recrutamento

Treine sua equipe para compreender as especificidades da inclusão, especialmente no que diz respeito à comunicação com surdos. Conheça conceitos básicos de Libras, práticas de comunicação não violenta e estratégias para criar um ambiente acolhedor. Quanto mais os recrutadores estiverem preparados, maiores são as chances das ações inclusivas alcançarem os objetivos esperados.

Durante o treinamento, é possível eliminar vieses inconscientes que muitas vezes guiam o olhar do recrutador ao longo da seleção. Entendendo quais são as deficiências dos candidatos e o que a empresa tem à disposição, é possível aparelhar os colaboradores para que todos evoluam em conjunto com o negócio. Dessa forma, é criada uma equipe eficiente.

Adapte materiais e etapas do processo de seleção

Outra etapa importante é ter em mãos materiais acessíveis, como vídeos legendados, descrições em áudio e textos em formatos acessíveis. Além disso, ao longo das entrevistas, conte com a presença de intérpretes de Libras ou plataformas de videoconferência que permitam a comunicação em Libras.

Para saber como criar um processo seletivo mais inclusivo, considere ainda realizar dinâmicas que valorizem as habilidades técnicas e comportamentais dos candidatos. Assim, não é preciso exigir contato físico ou provas que possam ser obstáculos a quem está em busca de uma vaga e possui alguma deficiência, como a surdez.

Publique a vaga em diversos canais

É adequado ainda divulgar as vagas em uma ampla variedade de canais para alcançar um maior número de pessoas. Caso contrário, corre-se o risco de continuar atraindo um perfil homogêneo de candidatos.

Assim, publique as oportunidades de trabalho em redes sociais voltadas para grupos minoritários de diferentes tipos, sites especializados em diversidade, universidades públicas e organizações comunitárias.

Tenha uma equipe de recrutamento diversa

Para um processo seletivo inclusivo, também é importante que o time de recrutadores seja heterogêneo. Isso faz toda a diferença na hora de identificar e valorizar talentos com perfis diversos e promover um processo seletivo mais justo e equilibrado.

Além disso, quando o recrutamento é feito por profissionais de diferentes origens, gêneros, idades e/ou com alguma deficiência, eles tendem a ser mais sensíveis a respeito do tema. Desse modo, conseguem enxergar além das características que tornam os candidatos pertencentes a um grupo minoritário.

Como promover a diversidade em um processo seletivo?

Para promover a diversidade no recrutamento de profissionais a fim de ocupar uma vaga de emprego, são necessárias ações bem planejadas. Portanto, veja a seguir o que não pode faltar na hora de fazer um processo seletivo mais inclusivo:

• Divulgação direcionada: utilize canais específicos voltados para grupos de PCD, pessoas LGBTQIA+, mulheres, idosos e outros, a exemplo de associações, ONGs e plataformas de redes sociais com foco nessas comunidades;
• Parcerias estratégicas: estabeleça parcerias com organizações que atuam na inclusão de pessoas surdas, o que facilita o acesso a talentos qualificados;
• Adoção de linguagem acessível: use Libras em anúncios, vídeos e materiais de divulgação para demonstrar um verdadeiro compromisso com a inclusão;
• Treinamento de recrutadores: capacite sua equipe para compreender as necessidades da comunidade surda e atuar de forma respeitosa e adequada;
• Acolhimento na entrevista: ofereça um ambiente amigável, com intérpretes disponíveis e uma linguagem clara, para que o candidato se sinta confortável e possa demonstrar todo o seu potencial.

Quais são os benefícios de um processo seletivo inclusivo?

Implementar práticas inclusivas traz diversas vantagens não só para as pessoas com deficiência ou que façam parte de outros grupos menos atendidos em processos seletivos, mas, inclusive, para a organização. Entenda como o processo seletivo inclusivo impacta seu negócio positivamente::

• Aumento da diversidade e inovação: contar com perfis e experiências variadas tornam as equipes mais criativas, fazendo com que elas encontrem soluções inovadoras para as tarefas do dia a dia usando os recursos já disponíveis;
• Melhoria da reputação da empresa: organizações que investem na inclusão são mais bem-vistas pelos seus clientes, parceiros e fornecedores, assim como pelo mercado em que atua como um todo;
• Ampliação do acesso a talentos qualificados: atrair profissionais que, de outra maneira, poderiam ficar de fora do mercado de trabalho é uma forma de ter um time qualificado, com múltiplas visões sobre temáticas da rotina empresarial e talentoso;
• Cumprimento da lei e de obrigações legais: algumas empresas, de acordo com a legislação, devem ter uma cota de PCD conforme o seu porte. Assim, saber como criar um processo seletivo mais inclusivo é o primeiro passo para atender a norma;
• Fortalecimento da cultura organizacional: promover valores de respeito, empatia e responsabilidade social contribui para a empresa criar um ambiente mais justo e correto.

Como implementar um processo de recrutamento inclusivo?

Veja a seguir um passo a passo simples e prático que pode ajudar a sua organização a garantir de maneira efetiva uma estratégia inclusiva para atender a lei, melhorar a sua reputação e cumprir com a responsabilidade social:

Passo 1: Diagnostique o cenário atual de suas contratações

Analise suas práticas atuais de recrutamento, identifique barreiras e oportunidades de melhoria. Além disso, avalie se há materiais acessíveis, se a equipe está apta ou precisa ser treinada e quais canais de divulgação podem ser utilizados para as novas contratações.

Passo 2: Estabeleça metas e diretrizes

Defina objetivos claros para sua política de inclusão, como aumentar a contratação de profissionais surdos ou com outra deficiência em um determinado período de tempo ou criar parcerias com organizações de inclusão. Determinar prazos é importante para que as medidas não caiam no esquecimento.

Passo 3: Capacite sua equipe

Realize treinamentos específicos sobre diversidade, inclusão e Libras. Promova uma cultura de respeito e abertura para novas práticas visando realmente ter um ambiente acolhedor. 

Para tanto, é importante contar com profissionais já experientes em como criar um processo seletivo mais inclusivo para sensibilizar os colaboradores que serão capacitados.

Passo 4: Adapte processos e materiais

Revise anúncios, dinâmicas e entrevistas para que eles se adaptem às necessidades de acessibilidade de maneira apropriada. Nesse sentido, é possível contratar intérpretes de Libras e utilizar plataformas de atendimento acessíveis.

Passo 5: Monitore e ajuste as ações

Acompanhe os resultados, colete feedback dos candidatos e colaboradores e ajuste as estratégias conforme necessário para garantir a efetividade do processo de seleção. 

Esse monitoramento é de extrema importância para corrigir falhas e melhorar de maneira contínua o processo de recrutamento mais incluso na sua empresa.

Conclusão

Preocupar-se em como criar um processo seletivo mais inclusivo e implementar ações para concretizá-lo é uma decisão que oferece benefícios para toda a organização. Afinal, promove a diversidade, a inovação e a responsabilidade social.

Portanto, investir em práticas acessíveis e na valorização de profissionais surdos, com outras deficiências e que façam parte dos grupos tidos como minoritários é uma oportunidade de fortalecer sua marca no mercado. Também é o jeito certo de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.

Se a sua empresa busca ferramentas que ajudem a criar um processo seletivo mais inclusivo, conheça as soluções da ICOM. Contando com intérpretes de Libras durante seu recrutamento, é possível tornar a empresa mais acessível para colaboradores surdos. 

Este conteúdo contou com a colaboração de Maiza Santana Neville Ribeiro. Especialista com mais de 30 anos em cargos de direção, assessoria, gerenciamento, consultoria em gestão e educação corporativa em empresas públicas, privadas e não governamentais. Coach; Consultora Organizacional e Educação Empresarial; Mentora de Liderança e Carreira 60+; Conselheira Consultiva. Autora do livro DIVERSIDADE GERACIONAL: mutações, transformações e impactos dos 50+ nas organizações e na sociedade – Ed. Press Color, 2021 e co-autora do livro NÓS POR ELAS – Mentores que Transformam Vidas, capítulo mentoria pela maturidade, Ed Literare Book, 2024, São Paulo. Fundadora e Diretora Executiva da DAMICOS Consultoria.

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