A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida por lei no Brasil desde 2002. Ela possui estrutura gramatical própria e, além dos sinais, as expressões faciais e corporais também têm peso na comunicação. Por exemplo, pode haver um sinal que é o mesmo com as mãos, mas que uma expressão facial muda o seu sentido na frase.

No início de agosto de 2021, ficou determinado em um Projeto de Lei (PL) em que o tratamento da educação bilíngue de surdos passa a ser uma modalidade de ensino independente, com a Libras como primeira língua e o português como segunda. O PL prevê que a educação bilíngue deve começar na educação infantil e seguir ao longo da vida escolar. E a modalidade deve ser aplicada em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de surdos, escolas comuns ou polos de educação bilíngue de surdos.

Mas, apesar de ser reconhecida oficialmente como uma língua brasileira, ainda há muitos fatos sobre a Libras que não são muito conhecidos. Por isso, separamos abaixo uma lista de curiosidades sobre libras. Confira!

Qual a origem da Libras?

A história da Língua Brasileira de Sinais começa no segundo império. Após convite do imperador Dom Pedro II, o francês Ernest Huet trouxe para cá a Língua de Sinais Francesa e implantou a Língua Nacional de Sinais, como se chamava na época.

Relatos indicam que o imperador tinha um neto surdo e buscava formas para ele estudar. Já outros relatos apontam que não se tratava de um neto, e sim de um parente próximo. Em qualquer cenário, Huet teria sido chamado para trazer uma solução para essa questão, já que ele era um grande estudioso formado no Instituto Nacional de Surdos de Paris.

Em 1855, Huet mostrou o projeto de criação de uma escola para surdos após identificar que a quantidade de surdos no Brasil era acima do imaginado. Dom Pedro II aceitou a proposta e o IISM – Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi fundado no Rio de Janeiro, em 1857. 

Na escola, passou a ser ensinada uma língua de sinais que misturava a que existia na França com gestos usados no Brasil. Com essa mistura, começou a surgir a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Assim como a Libras, outras línguas de sinais pelo mundo surgiram graças à Língua de Sinais Francesa.

O que é importante saber sobre Libras? 

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) representa um instrumento de identidade, autonomia e inclusão para a comunidade surda. Reconhecida como língua oficial no Brasil desde 2002, a Libras garante que pessoas com deficiência auditiva tenham acesso à educação, ao mercado de trabalho e à participação social de forma geral.

Libras: Uma língua visuoespacial e ágrafa 

A Língua Brasileira de Sinais é classificada como uma língua visuoespacial, que utiliza movimentos das mãos, expressões faciais e corporais para se comunicar. Além disso, é uma língua ágrafa, ou seja, não possui uma forma escrita universal estabelecida (embora existam sistemas de notação, como o SignWriting).

Essas características tornam a Libras uma Língua única e complexa, com estrutura própria. No entanto, para entender a real importância, é fundamental conhecer também os diversos tipos de surdez, já que cada variação influencia diretamente na forma de uso da Libras. 

Tipo de surdez

Não são todos os surdos que nascem surdos. Há os que perdem a audição de forma progressiva ou súbita em algum ponto da vida. 

Também há quem perde parte da audição, tendo casos em que é possível optar pela reabilitação auditiva. Quando um ouvinte perde a audição após aprender o português, ele pode optar por implantes cocleares ou aparelhos auditivos.

É possível classificar a surdez pelo tipo e grau de perda auditiva: 

  • Surdez de condução ou transmissão: é causada no ouvido externo e médio e às vezes pode ser tratada com cirurgia ou medicamentos;
  • Surdez neurossensorial: é causada no ouvido interno ou vias nervosas. Pode acontecer de forma progressiva e costuma ser permanente;
  • Surdez mista: pode ser causada tanto no ouvido externo ou médio quanto no interno. Acontece uma combinação entre perda auditiva condutiva e neurossensorial.

Independente do nível de surdez, a Libras é uma língua que pode facilitar a comunicação de pessoas surdas ou com algum grau de perda auditiva. Também há Datilologia (alfabeta manual), escrita de sinais (signwriting) e outros recursos.

Principais curiosidades sobre Libras

A Libras é uma língua reconhecida por Lei no Brasil

No dia 24 de abril de 2002, a Lei nº 10.436 foi sancionada para reconhecer a Libras como meio legal de comunicação no Brasil

Durante o Miss Brasil 2008, por exemplo, uma das candidatas se comunicava por meio de uma intérprete de Libras. Ela rejeitou a classificação de “deficiente auditiva”, alegando que poderia ser vista de forma pejorativa. De acordo com o IBGE, 9,7 milhões de brasileiros são surdos ou têm deficiência auditiva.

Libras é brasileira, não é uma língua universal 

Assim como o português não é falado em todos os países, a Língua Brasileira de Sinais é utilizada somente ao Brasil. Ou seja, a Libras é a língua  oficial das pessoas surdas no Brasil, um idioma brasileiro. 

Cada país possui a sua língua de sinais com estrutura e sinais próprios. Assim como cada país tem o seu idioma. Como o português é o do Brasil, a língua de sinais segue a mesma lógica. Mais que isso, cada região do país também possui variações, como acontece com as línguas da modalidade oral-auditiva.

Não seria possível haver uma única língua para todos os surdos do mundo, já que a língua é viva e conta com diversidade cultural ilimitada, sofrendo alterações à medida que o tempo passa e de acordo com cada pessoa e região. 

Dia Nacional de Libras 

O Dia Nacional da Libras é comemorado no dia 24 de abril. A data ficou conhecida por comemorar o reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão no Brasil no ano 2002 pela Lei nº 10.436.  Se tornando uma grande vitória para a comunidade Surda e um marco para a história do Brasil.

Por que a língua brasileira de sinais se chama Libras? 

Libras é apenas uma abreviação que significa Língua Brasileira de Sinais. Reconhecida no ano de 2002 como uma língua oficial no Brasil, a Libras se tornou a principal forma de comunicação entre a comunidade surda. 

Libras não é uma linguagem, é uma língua 

É importante entender primeiramente a diferença entre Língua e Linguagem para então saber o motivo pelo qual é errado chamar Libras de linguagem.

A língua é um código usado na comunicação entre interlocutores, como por exemplo português, espanhol, francês e diversas outras línguas. Já a linguagem é um modo de comunicação ou de expressão sendo ele verbal ou não verbal, como por exemplo textos escritos ou falados, pinturas, filmes, música, dança, gestos e diversas outras formas de expressão. 

Agora que você já sabe a diferença, lembre-se sempre que a Libras é uma língua oficial no Brasil, que foi reconhecida por lei.  

Libras possui estrutura gramatical própria 

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua visual que possui a sua própria estrutura gramatical. Diferente do português que é uma língua flexional, composta por palavras faladas e escritas, a Libras é uma língua que possui uma estrutura gramatical visual, composta por sinais.

Ambas as línguas são sistemas linguísticos complexos e completos, cada um com sua estrutura, cultura e expressão. Apesar de coexistirem no Brasil, elas são duas línguas diferentes, seja na forma como é transmitida e até em sua importância cultural. 

Libras não é composta apenas por sinais manuais 

A Libras vai além dos sinais, ela é composta por expressões faciais e corporais que possuem tanta importância quanto os sinais em si

Na Lei 10.436, já informa que a Libras é uma língua formada de comunicação e expressão e outros recursos de expressão associados a ela. Por isso vale sempre lembrar que as expressões tornam a comunicação rica e é possível transmitir as emoções de forma clara e eficaz. 

Ao contrário do que possa parecer, Libras não é mímica

A Língua Brasileira de Sinais possui sua estrutura linguística própria, com verbos, advérbios, pronomes, entre outros. A Libras é uma língua completa com suas regras próprias que não seguem as mesmas regras da língua portuguesa. 

Com isso é extremamente errado falar que a Libras é apenas mímica, já na verdade ela é uma língua reconhecida oficialmente por lei. 

Libras também não é um português em gesto 

A Libras é uma língua autônoma. Ela faz parte da “Família Francesa” das línguas de sinais. Mas ela não é igual à Língua Francesa de Sinais, já que cada país tem a sua língua própria. 

Assim como o português brasileiro é diferente do português de Portugal, a Língua Brasileira de Sinais é diferente da correspondente de Portugal, a Língua Gestual Portuguesa.

Libras não é a língua natural de surdos 

Não é correto afirmar que a Libras é a língua natural dos surdos. A palavra “surdos” abrange uma infinidade de pessoas. 

Não há um único “tipo” de surdo em nenhum lugar do mundo, por isso a diversidade deve ser colocada sob os holofotes. Há surdos que ouvem, outros que não ouvem, alguns que usam Libras e outros que não usam. 

Em outras palavras, a Libras pode ser a língua natural de uma criança surda se ela é filha de pais surdos que utilizam esta língua. Se um bebê nasce surdo em uma família sem surdos, a Libras não será sua primeira língua. A língua natural da criança poderá ser a utilizada pela família que ela convive. A Libras pode ser a língua natural de alguns surdos, mas não é possível generalizar como língua natural de todos eles.

Nem todo surdo usa Libras 

Não são todos os surdos que nascem surdos. Há os que perdem a audição de forma progressiva ou súbita em algum ponto da vida. Também há quem perde parte da audição. Há casos em que é possível optar pela reabilitação auditiva ou que o português é falado. 

Quando um ouvinte perde a audição após aprender o português, ele pode optar por implantes cocleares ou aparelhos auditivos. Também é possível não utilizar esses recursos e mesmo assim não usar Libras.

Há outros recursos além da Libras para surdos, como os aparelhos de amplificação sonora, que vêm sendo substituídos por implantes cocleares. Também há datilologia, escrita de sinais (Signwriting) e mais.

Libras é diferente de gestuno 

A Libras não é a mesma coisa que gestuno; esse segundo é a língua artificial de sinais conhecida como língua de sinais internacional. Ou seja, o gestuno é a língua que tem como intenção possibilitar a comunicação internacional.

O gestuno costuma ser utilizado para propósitos específicos: por exemplo, por surdos em conferências internacionais. Não é considerada língua, pois não possui gramática. Em vez disso, faz uso de sinais com a gramática de alguma das línguas de sinais que já existem.

A língua de sinais também possui regionalidades 

Línguas surgem para ajudar o ser humano a expressar ideias e sentimentos. Na Libras, há regras gramaticais próprias e suas particularidades.

Dessa forma, ela é tão complexa e expressiva quanto a língua oral. E, assim como a língua oral, a Libras cria características próprias também de acordo com a nacionalidade e regionalidade.

Inserir legendas em vídeos não é 100% eficiente 

Inserir legendas como forma de acessibilizar um vídeo, não torna totalmente acessível. Precisamos levar em consideração que dentro da própria comunidade surda existe uma grande diversidade, já que nem todas as pessoas que fazem parte da comunidade são alfabetizadas na língua portuguesa e por esse motivo preferem que o conteúdo seja acessibilizado em Libras. 

Contudo a pessoas dentro da comunidade surda que não utilizam a Libras e preferem que os conteúdos sejam acessibilizados com legendas. 

Precisamos sempre lembrar, que a acessibilidade precisa ser para todos e com isso é necessário pensar de forma ampla de forma que abranja toda a comunidade surda. 

Como é o alfabeto em Libras?

A Libras possui a sua própria estrutura gramatical e isso inclui o seu alfabeto. Conhecido como alfabeto em Libras ou alfabeto manual, esse é um recurso que utiliza as mãos para representar as letras do alfabeto.

 Cada letra possuindo sua própria configuração de mão, conforme imagem abaixo: 

Quem fala Libras e alguma outra língua, é bilíngue! 

É isso mesmo, uma pessoa que domina a Língua Brasileira de Sinais junto ao português é considerada bilíngue, pois a Língua Brasileira de Sinais é uma língua oficial, reconhecida por lei. 

Lembrando que isso pode abrir portas para carreiras como intérpretes de Libras

Libras: sociedade e legislação 

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) representa um marco histórico na luta por direitos e acessibilidade para a comunidade surda no Brasil. Sua trajetória está diretamente ligada a conquistas legislativas e sociais que buscam garantir igualdade de oportunidades. Este texto explora essas conquistas legais e seu impacto na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.  

Regulamentação da profissão de tradutor e intérprete de Libras

Já em 2010, foi publicada a Lei nº 12.319 com intuito de regulamentar a profissão de tradutor e intérprete de Libras, algo importante para atender à comunidade surda. 

A lei tornou possível avanços no campo do aprendizado, ensino e uso da Língua Brasileira de Sinais. E nos últimos anos, o tema virou objeto de discussão política.

Lei nº 10.436: Reconhecimento oficial da Libras no Brasil 

O passo importante na história da Libras aconteceu em 2002, com a publicação da Lei nº 10.436, que a reconheceu como meio legal de comunicação e expressão. A lei contribuiu para uma sociedade mais inclusiva e garantiu uma melhor qualidade de vida.  

A Congresso de Milão

Em 1880, no Congresso de Milão, na Itália, foram analisadas as abordagens utilizadas na educação de surdos pelo mundo. Muitos defenderam que o ensino deveria ser feito pelo método oralizado e a maioria votou pelo fim do uso das línguas de sinais em todo o mundo e adoção dos métodos oralizados. A decisão causou prejuízo para a Libras, mas ela continuou sendo usada informalmente no Brasil.  

Libras no Enem 

Desde 2017, o Enem passou a oferecer a videoprova em Libras, com intuito de acessibilizar a prova para os participantes surdos e deficientes auditivos.  

Isso ocorreu por uma iniciativa da Política de Acessibilidade e Inclusão do Inep, representando um grande avanço na inclusão educacional. 

Conclusão 

A Libras possui uma trajetória marcada por conquistas históricas que fazem parte da história do Brasil, revelando um processo de resistência. Desde sua origem no século XIX até o reconhecimento como língua oficial em 2002. Hoje, ela não é só protegida por lei, mas também celebrada como parte fundamental da cultura surda brasileira. 

E aí, gostou das curiosidades sobre libras? Não deixe de entrar em contato conosco e descobrir se a sua marca está sendo realmente inclusiva.

Escrito por:

Camila Graziela – Analista de Conteúdo

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