Exemplos de tecnologia assistiva na educação mostram como recursos acessíveis podem transformar a realidade de estudantes com deficiência e promover inclusão escolar de verdade. Afinal, a educação é um direito fundamental, mas ainda não é uma realidade acessível para todos no Brasil.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE, divulgada em 2023, pessoas com deficiência têm menor acesso à educação, ao trabalho e à renda. O estudo mostra que, enquanto 92,7% da população sem deficiência é alfabetizada, esse índice cai para 80,5% entre as pessoas com deficiência.
Esse cenário revela uma problemática: o sistema educacional ainda não está preparado para atender às diferentes necessidades dos estudantes com deficiência. A ausência de ferramentas adequadas contribui diretamente para a exclusão social e econômica. É nesse contexto que a tecnologia assistiva na educação se mostra como a melhor solução para construir um ambiente mais inclusivo, acessível e eficiente para todos.
O que é tecnologia assistiva na educação?
Podemos descrever a tecnologia assistiva na educação como um conjunto de recursos, ferramentas, metodologias e serviços criados para promover a autonomia e a participação ativa de estudantes com deficiência nos processos de aprendizagem.
Ela pode incluir desde dispositivos físicos, como pranchas de comunicação, até softwares, aplicativos e soluções digitais que adaptam o conteúdo às necessidades de cada aluno.
O objetivo principal da tecnologia assistiva é remover barreiras que impedem o acesso pleno à educação, garantindo que todos os estudantes tenham condições de aprender, se comunicar e interagir com os colegas e professores.
Sobre as tecnologias assistivas e seu impacto social, Fábio de Sá, que é professor de Libras, comenta que
“antigamente era diferente, em qualquer situação era um tremendo desafio para um surdo por não contar com um intérprete oralizado. Exemplo, ter que ir à polícia fazer um B.O., ou a um hospital, ele precisava de um intérprete. Hoje podemos contar com tecnologias assistivas como a plataforma do ICOM que serve de intérprete online nos ajuda a superar essa tremenda barreira.”
Qual é a importância da tecnologia assistiva na educação?
A presença de tecnologia assistiva no ambiente educacional é decisiva para garantir equidade de acesso à aprendizagem. Alunos com deficiência muitas vezes enfrentam obstáculos que os colocam em desvantagem dentro da sala de aula — seja pela ausência de materiais acessíveis, pela dificuldade de comunicação ou pela falta de autonomia na realização de tarefas.
Ao oferecer recursos que respeitam as necessidades individuais de cada estudante, a tecnologia assistiva:
- Promove a inclusão social e escolar;
- Melhora o desempenho acadêmico;
- Estimula a autoestima e a autonomia;
- Prepara o estudante para a vida em sociedade e para o mercado de trabalho.
Em outras palavras, a importância da tecnologia assistiva na educação se dá pela contribuição direta para reduzir as desigualdades educacionais destacadas pelo IBGE e tornar a educação realmente inclusiva.
Quais são os tipos de tecnologia assistiva na educação?
A tecnologia assistiva pode ser dividida em diferentes tipos, de acordo com sua finalidade e público-alvo. Abaixo, listamos as principais categorias utilizadas na educação:
1. Tecnologias de acesso ao conteúdo
Ferramentas que adaptam a forma como o aluno recebe e processa as informações, como:
- Leitores de tela (ex: NVDA, JAWS);
- Ampliadores de tela para alunos com baixa visão;
- Softwares de leitura com voz sintetizada (TTS);
- Aparelhos auditivos com conectividade Bluetooth.
2. Tecnologias de comunicação alternativa e aumentativa (CAA)
Recursos voltados a estudantes com deficiência na fala, comunicação oral limitada ou distúrbios neurológicos:
- Pranchas de comunicação com figuras;
- Aplicativos com símbolos visuais e leitura em voz alta;
- Tablets com softwares CAA personalizados.
3. Tecnologias de acessibilidade física
Equipamentos que possibilitam o manuseio de materiais didáticos ou dispositivos eletrônicos por alunos com limitações motoras:
- Teclados adaptados e mouses alternativos;
- Mesas e cadeiras com ajustes de altura;
- Lousas eletrônicas controladas por toque ou voz.
4. Tecnologias de organização e apoio à aprendizagem
Ideais para estudantes com dislexia, TDAH ou outras dificuldades de aprendizagem:
- Organizadores digitais;
- Agendas visuais;
- Aplicativos com timers e cronogramas personalizados.
Portanto, a tecnologia assistiva em sala de aula é importante para a inclusão de crianças com diferentes necessidades, viabilizando que o ambiente educacional seja acolhedor e equitativo. Uma vez que dá suporte para que a criança possa se desenvolver plenamente, por ter um ambiente em que suas limitações são respeitadas e a equipe se preparou para que possa dar suporte ao aluno.
Afinal, quando os professores conhecem as necessidades de seus alunos e contam com tecnologia suficiente para dar suporte, a escola se torna um espaço de desenvolvimento.
Quais são exemplos de tecnologia assistiva?
A seguir, reunimos exemplos de tecnologia assistiva na educação que já são aplicados com sucesso em escolas inclusivas no Brasil e no mundo:
- Dosvox: sistema operacional com interface por voz voltado a pessoas cegas;
- NVDA (NonVisual Desktop Access): leitor de tela gratuito;
- Teclado alternativo BigKeys: com teclas maiores, ideal para crianças ou pessoas com baixa mobilidade;
- Joysticks adaptados: substituem o mouse tradicional para quem tem dificuldades motoras;
- Smart Pens: canetas digitais que gravam áudio enquanto escrevem e permitem revisões sincronizadas;
- Pranchas PECS (Picture Exchange Communication System): muito usadas no ensino de crianças autistas não verbais;
- Aplicativos como LetMeTalk, Avaz ou Livox: auxiliam na comunicação alternativa por meio de ícones e voz sintetizada;
- Audiolivros e livros em braile: fundamentais para estudantes com deficiência visual;
- Softwares com recursos de leitura fonética: usados para alunos com dislexia.
Essas tecnologias demonstram como a inovação pode — e deve — ser aliada da inclusão educacional. Promovendo a possibilidade de adequar o conteúdo
Como podemos utilizar a tecnologia assistiva na sala de aula?
A adoção de tecnologia assistiva na sala de aula deve ir além da simples aquisição de equipamentos. Ela precisa estar integrada à prática pedagógica de forma consciente, planejada e inclusiva, garantindo que cada aluno tenha oportunidades reais de aprender e participar das atividades.
A implementação da tecnologia assistiva na sala de aula requer sensibilidade, planejamento e apoio institucional. Veja algumas formas práticas de aplicar esses recursos no dia a dia:
1. Capacite professores e funcionários
O maior impacto da tecnologia assistiva ocorre quando o educador sabe como usá-la com propósito pedagógico. Não basta ter os recursos de ponta, é preciso saber quando, como e por que aplicá-los para que todos os alunos sejam beneficiados pela tecnologia.
Por isso, a escola deve realizar formações contínuas sobre acessibilidade e inclusão. Durante os treinamentos é importante compartilhar boas práticas e cases de sucesso com a equipe pedagógica.
Além disso, é importante manter um canal ativo de troca com profissionais de apoio, como intérpretes de Libras, psicopedagogos e terapeutas. Outro ponto importante é manter um repositório interno de ferramentas assistivas testadas e recomendadas pelos próprios professores.
Capacitando os professores para reconhecer o potencial de cada aluno e aplicar as ferramentas de tecnologia assistiva de forma eficiente é possível impactar positivamente toda a escola.
2. Personalização do ensino
Cada aluno aprende de maneira diferente, especialmente aqueles com deficiência. A tecnologia assistiva pode ser usada para personalizar o acesso à informação de acordo com as necessidades específicas. Como aplicar:
- Utilize leitores de tela (como NVDA ou JAWS) para alunos cegos ou com baixa visão;
- Ofereça materiais em braile, audiolivros ou textos com letra ampliada;
- Use tradutores automáticos de Libras (como VLibras) para alunos surdos;
- Traduza slides e provas com imagens e linguagem simplificada para alunos com deficiência intelectual ou autismo.
Um mesmo conteúdo pode estar disponível em texto, áudio, vídeo com legenda e Libras, ampliando o alcance e a compreensão de todos os alunos em sala de aula.
3. Crie um ambiente sensorialmente acessível e acolhedor
Além das ferramentas tecnológicas, o espaço da sala de aula deve ser ajustado para que todos se sintam incluídos e respeitados. Isso envolve uma série de cuidados, como:
- Organize o mobiliário de forma que cadeiras de rodas possam circular com facilidade;
- Reduza estímulos sonoros e visuais excessivos para alunos com autismo ou TDAH;
- Instale painéis visuais com rotinas do dia;
- Mantenha recursos físicos organizados por cor, forma ou imagem, facilitando a autonomia dos alunos.
4. Planeje aulas com metodologias ativas e colaborativas
A tecnologia assistiva deve estar a serviço da participação. Alunos com deficiência aprendem melhor quando estão envolvidos, desafiados e incluídos nas interações em sala de aula, para isso:
- Utilize lousas digitais interativas com comando por toque ou ponteiras adaptadas;
- Crie grupos heterogêneos, incentivando que alunos sem deficiência auxiliem colegas no uso das tecnologias;
- Proponha projetos com múltiplas formas de entrega: vídeos, áudios, apresentações visuais etc.
Ofereça liberdade de escolha sobre a forma como o aluno irá demonstrar o que aprendeu, para que todos possam compartilhar da sua própria forma, tornando o aprendizado personalizado e prazeroso.
5. Envolva as famílias no processo educativo
O uso da tecnologia assistiva deve se estender para além dos muros da escola. Envolver pais e responsáveis fortalece o vínculo e garante continuidade ao aprendizado em casa, para isso:
- Promova encontros com familiares para apresentar os recursos usados na escola;
- Ensine os responsáveis a utilizarem os aplicativos e dispositivos em casa;
- Compartilhe vídeos demonstrativos e tutoriais simples de uso das ferramentas.
6. Avalie o progresso considerando o uso da tecnologia
As avaliações também precisam ser inclusivas. O uso da tecnologia assistiva deve ser considerado na hora de planejar atividades avaliativas. Entenda exemplos:
- Permita que o aluno responda provas oralmente com uso de recursos CAA;
- Ofereça mais tempo ou suporte para alunos que usam leitores de tela;
- Avalie o desempenho individual com base na autonomia conquistada e não pela comparação com os demais.
Conclusão
Investir nos exemplos de tecnologia assistiva na educação anteriormente citados é um passo essencial para enfrentar as desigualdades estruturais apontadas por pesquisas como a do IBGE. Esses recursos não apenas tornam o ensino mais acessível, mas também promovem autonomia, dignidade e inclusão verdadeira para milhares de estudantes com deficiência.
Se sua escola, instituição ou rede de ensino deseja transformar o ambiente educacional em um espaço mais justo e acessível, comece incorporando tecnologia assistiva como aliada no processo de aprendizagem. Educação inclusiva é um direito — e a tecnologia pode ser o caminho mais efetivo para garantir que ele seja respeitado.
O ICOM é uma plataforma de atendimento em Libras que pode transformar a experiência dos surdos em interações, experimente.
Este conteúdo contou com a colaboração de Fábio de Sá, professor de Libras e Especialista em Acessibilidade e Inclusão.