O conceito de “surdo” não deve ser reduzido apenas à ausência da audição. Ser surdo envolve uma experiência complexa que vai além da deficiência sensorial e abrange aspectos linguísticos, sociais e culturais.  

Mesmo com os avanços em políticas públicas e no uso de tecnologias assistivas, ainda persistem barreiras na comunicação, na educação e no acesso a serviços. Essas barreiras limitam o exercício pleno da cidadania por parte da população surda.  

Por isso, este artigo busca esclarecer quem é o surdo, quais são suas especificidades, direitos garantidos em lei, tipos de surdez, as diferenças entre “surdo” e “deficiente auditivo” e quais tecnologias estão ajudando a transformar a vida da comunidade surda. 

O que é um surdo? 

Uma pessoa surda é aquela que possui perda auditiva significativa, geralmente de grau severo a profundo, que a impede de compreender a fala por via auditiva, mesmo com o uso de aparelhos.  

Muitas pessoas surdas se comunicam prioritariamente por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), uma língua completa, com estrutura e gramática próprias, reconhecida oficialmente no Brasil. Assim, o termo “surdo” também está relacionado a uma identidade cultural e linguística compartilhada por um grupo social. 

Essa identidade não é definida apenas pela perda auditiva, mas pelo uso da Libras, pela participação em espaços de convivência entre surdos e pelo compartilhamento de experiências comuns. É importante compreender que, para muitas pessoas surdas, a Libras é a língua materna, e o português escrito, uma segunda língua aprendida posteriormente. 

É necessário entender, ainda, que a surdez pode surgir de diferentes formas: congênita, adquirida na infância ou ao longo da vida. Cada caso traz impactos distintos sobre o desenvolvimento da linguagem e das habilidades sociais, exigindo abordagens específicas na educação e na comunicação.  
 
A diversidade de experiências dentro da comunidade surda é ampla, e reconhecer essa multiplicidade é essencial para políticas públicas e ações inclusivas mais eficazes. 

É correto dizer surdo? 

Sim. O termo “surdo” é correto e amplamente utilizado pela própria comunidade. Expressões como “surdo-mudo” devem ser evitadas, pois são incorretas e carregadas de preconceito. A maioria das pessoas surdas possui capacidade de fala, mas muitas não a utilizam por falta de compreensão auditiva. 

Chamar alguém de “surdo” reconhece sua identidade e respeita sua forma de comunicação. O uso adequado da terminologia também contribui para a valorização da cultura surda e para o combate ao capacitismo. 

Outras opções socialmente aceitáveis são “pessoa surda” e “pessoa com deficiência auditiva”. A valorização da terminologia correta não é apenas uma questão de semântica, mas também de respeito e reconhecimento político.  

A escolha dos termos carrega consigo uma história de lutas por visibilidade, cidadania e pertencimento. Ao adotar a palavra “surdo”, respeitamos a forma como essa população se autoidentifica e reforçamos sua legitimidade enquanto grupo social, com direitos, cultura e língua próprios. 

Quais são os tipos de surdez? 

Existem diferentes tipos de surdez, podendo ser condutiva, neurossensorial, mista ou central, compreenda mais detalhes a seguir: 

  1. Surdez condutiva: afeta o ouvido externo ou médio. Pode ser causada por infecções, acúmulo de cera ou anomalias ósseas. Geralmente, é reversível com tratamento clínico ou cirúrgico; 
  1. Surdez neurossensorial: afeta o ouvido interno (cóclea) ou o nervo auditivo. Pode ter causas genéticas, congênitas ou resultar de exposição a ruídos. É o tipo mais comum entre os surdos profundos; 
  1. Surdez mista: combina componentes das duas anteriores, exigindo abordagens terapêuticas combinadas; 
  1. Surdez central: relacionada ao processamento cerebral da audição. Ocorre quando há falhas na interpretação dos sons, mesmo que a audição física esteja preservada. 
     
     

Qual a diferença entre surdos e deficientes auditivos? 

Embora sejam muitas vezes utilizados como sinônimos, os termos “surdo” e “deficiente auditivo” representam condições diferentes, com implicações específicas para a forma como cada pessoa se comunica e se relaciona com o mundo. Compreenda as diferenças: 

  • Surdos: são indivíduos com perda auditiva severa ou profunda que, em geral, não se beneficiam significativamente do uso de aparelhos auditivos. Eles se comunicam principalmente por meio da Libras e muitos se identificam como membros de uma comunidade linguística e cultural própria. 
  • Deficientes auditivos: incluem pessoas com algum grau de perda auditiva (leve, moderada ou severa) que ainda conseguem se comunicar por meio da língua oral, especialmente com o uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares. Diferente dos surdos, muitos deficientes auditivos não utilizam Libras e não se reconhecem como parte da comunidade surda. Do ponto de vista clínico, considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de 41 decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. 
     

 
Essa distinção entre surdo e deficiente auditivo é essencial para garantir que cada grupo receba o suporte adequado.  
Enquanto o deficiente auditivo pode precisar de recursos sonoros amplificados, o surdo requer recursos visuais, como intérpretes, vídeos em Libras e materiais bilíngues. A compreensão correta desses perfis influencia diretamente políticas públicas de acessibilidade, estratégias educacionais e atendimentos em saúde e serviços. 

Quais são os direitos dos surdos? 

As pessoas surdas no Brasil têm uma série de direitos garantidos por lei, que visam assegurar sua cidadania plena, com acesso à educação, saúde, informação, trabalho e participação social. Esses direitos estão consolidados em legislações como a Constituição Federal, a Lei nº 10.436/2002, o Decreto nº 5.626/2005 e a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015). A seguir, destacamos os principais direitos das pessoas surdas: 

  • Reconhecimento da Libras como língua oficial: a Lei nº 10.436/2002 reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, garantindo seu uso em instituições públicas e privadas; 
  • Educação bilíngue: a educação da pessoa surda deve ocorrer, preferencialmente, em ambiente bilíngue, com Libras como primeira língua e o português escrito como segunda, conforme prevê o Decreto nº 5.626/2005
  • Presença de intérpretes de Libras: instituições públicas e privadas, especialmente na área da educação, devem disponibilizar intérpretes de Libras para garantir o acesso ao conteúdo; 
  • Acessibilidade à informação: meios de comunicação, eventos públicos, plataformas digitais e serviços essenciais devem oferecer conteúdos com interpretação em Libras ou legendas; 
  • Acesso à saúde com comunicação adequada: hospitais, postos de saúde e serviços de emergência devem estar preparados para atender pessoas surdas com o auxílio de intérpretes ou ferramentas tecnológicas; 
  • Participação em concursos públicos: pessoas surdas têm direito à adaptação de provas, presença de intérpretes e outros recursos que assegurem igualdade de condições; 
  • Acesso à justiça: o Judiciário deve garantir a presença de profissionais fluentes em Libras em todas as fases do processo, desde depoimentos até audiências; 
  • Incentivo ao uso de tecnologias assistivas: o Estado deve promover o desenvolvimento e a oferta de soluções tecnológicas que melhorem a comunicação e autonomia da pessoa surda. 
     
     
     
    O cumprimento efetivo desses direitos é um passo essencial para combater a exclusão social e garantir a plena inclusão da comunidade surda na vida pública e privada.  
     
    Mais do que adaptações pontuais, é necessário promover uma mudança estrutural e cultural que valorize a diversidade humana e reconheça a Libras como um patrimônio linguístico nacional. 
     
    Além da legislação brasileira, outras iniciativas internacionais ajudam a ampliar a consciência sobre os direitos da pessoa surda. Em Portugal, por exemplo, a Carta de Direitos da Pessoa Surda, aprovada em 2001 durante o III Congresso Nacional de Surdos, na cidade de Beja, estabelece uma série de princípios fundamentais.  
     
    Entre os principais, estão: 
  • Direito à língua gestual: a pessoa surda deve ter acesso pleno e gratuito à língua gestual, reconhecida como meio de comunicação oficial; 
  • Participação na vida associativa e política: é garantido o direito de se organizar em associações e participar plenamente da vida cívica e política; 
  • Direito à educação bilíngue e culturalmente sensível: a educação deve promover o desenvolvimento da personalidade surda, respeitando sua história, cultura e língua; 
  • Acesso à informação, cultura e lazer: a pessoa surda deve ter acesso a todas as formas de produção cultural e informacional por meio da língua gestual; 
  • Serviços de interpretação e acessibilidade: o serviço de intérprete de língua gestual deve ser gratuito e garantido nos diferentes contextos sociais, incluindo saúde, justiça, educação e lazer. 
     
     
    Esses princípios reforçam a ideia de que a surdez não é uma limitação, mas uma diferença que precisa ser respeitada e acolhida. A defesa desses direitos, tanto no Brasil quanto em outros países, fortalece a luta global por inclusão, equidade e dignidade para todas as pessoas surdas. 
     
    A tecnologia pode ser uma ponte entre o surdo e o mundo. Conheça a solução do ICOM para tradução em Libras em tempo real e ofereça um atendimento inclusivo. 

Quais tecnologias ajudam os surdos no dia a dia? 

A inclusão digital tem sido uma aliada essencial da comunidade surda. Entre as tecnologias mais utilizadas estão: 

  • Aplicativos de tradução automática para Libras;  
  • Videochamadas com intérpretes humanos em tempo real; 
  • Legendas automáticas em plataformas de vídeo; 
  • Aparelhos auditivos e implantes cocleares; 
  • Sistemas de alerta visual para emergências (com luzes piscantes e vibração, por exemplo).  
     

 
 
Esses recursos facilitam a comunicação, garantem autonomia e promovem igualdade de oportunidades. No entanto, o acesso a essas tecnologias ainda é desigual no Brasil, e é preciso que empresas e instituições invistam em soluções acessíveis e escaláveis. 
 
Além disso, tecnologias de reconhecimento de fala e de tradução simultânea estão cada vez mais sofisticadas, ampliando a autonomia dos surdos em diferentes contextos, desde o atendimento em serviços até a participação em ambientes educacionais e corporativos.  
 
O uso de QR Codes para ativar atendimentos com intérpretes, por exemplo, já é realidade em diversas instituições públicas e privadas. 

Conclusão 

Ser surdo é ter uma forma singular de estar no mundo, com uma língua própria, uma cultura rica e direitos garantidos por lei. A inclusão verdadeira passa pelo respeito às especificidades dessa comunidade e pela adoção de tecnologias que aproximam, informam e acolhem. 

Mais do que oferecer acessibilidade, é preciso transformar estruturas e mentalidades para que a pessoa surda não precise se adaptar à sociedade, mas que a sociedade esteja preparada para acolhê-la em sua totalidade. 

O caminho para a inclusão plena das pessoas surdas envolve escuta ativa, formação de profissionais, políticas públicas eficazes e a disseminação de tecnologias que respeitam as singularidades dessa população. O reconhecimento do surdo como sujeito de direitos é um passo essencial para uma sociedade mais justa. 

A responsabilidade de garantir equidade e cidadania à comunidade surda não cabe apenas ao Estado, mas também a cada indivíduo, organização e instituição. Ao reconhecer a Libras como instrumento de acesso, ao investir em formação e ao adotar soluções focadas em inclusão, contribuímos para uma sociedade mais acessível, empática e plural. 

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