Preconceito linguístico: causas, impactos e como combater  

19/05/2025 | Comunidade surda

O preconceito linguístico é uma das formas mais persistentes de discriminação social presente no Brasil e no mundo. Ao julgar e marginalizar formas legítimas de falar, ele reforça desigualdades históricas, afeta autoestima e limita oportunidades educacionais e profissionais. 

No Brasil, mesmo com toda sua riqueza cultural e linguística e com variações na fala fazendo parte da identidade de milhões de pessoas, ainda assim, muitos desses modos de expressão são vistos como inferiores ou errados, e continuam propagando exclusão e desigualdade.  

Entender o que é o preconceito linguístico, quais são os tipos e como funciona no cotidiano é fundamental para favorecer a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Por isso, separamos tudo sobre esse tema, vamos lá? 

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Afinal, o que é preconceito linguístico? 

O preconceito linguístico é uma forma de discriminação que consiste em julgar ou desvalorizar a fala de alguém com base na identidade, seja pelo sotaque, vocabulário, expressões regionais, dialetos ou até mesmo pelo uso de Língua de Sinais (Libras). Essa discriminação sustenta a ideia equivocada de que existe uma maneira “correta” de falar, enquanto todas as outras estão “erradas”. No entanto, vale lembrar que, na verdade, toda variação linguística reflete a história, a cultura e o contexto social de um grupo de pessoas. 

Geralmente, essa postura é naturalizada e repetida de maneiras discretas no cotidiano, como na sala de aula, no trabalho, nas mídias. Isso reforça estereótipos de inferioridade e afeta o acesso a oportunidades, a autoestima e a dignidade de milhões de pessoas no Brasil e no mundo.  

Quais são os 4 tipos de preconceito linguístico? 

Inicialmente, é importante saber que o preconceito linguístico pode acontecer de diferentes formas, afetando diversos grupos: 

  • Sotaques e dialetos regionais: pessoas de algumas regiões costumam ser vítimas de bullying ou exclusão por falar diferente da norma urbana paulista, ou carioca, considerada “padrão”; 
  • Forma de falar de crianças e jovens: gírias, construções sintáticas próprias e expressões muitas vezes usadas por jovens, são julgadas como “pobres” da língua, mesmo elas sendo uma parte natural da evolução linguística; 
  • Uso de Libras: pessoas que usam Libras, língua oficialmente reconhecida no Brasil, enfrentam resistência e exclusão, especialmente em ambientes onde a comunicação inclusiva não é valorizada; 
  • Norma culta e elitismo linguístico: o domínio da norma padrão é frequentemente usado como critério de inteligência ou competência, ideia que impacta na marginalização de pessoas com outras variedades linguísticas. 

Qual a diferença de preconceito linguístico e variação linguística? 

Variação linguística é uma característica natural da língua. Ela acontece por diversos fatores, como região, classe social, faixa etária, gênero, contexto social ou situação comunicativa. Por exemplo, é normal que uma pessoa do Rio de Janeiro diga “maneiro” e alguém de Minas Gerais diga “bão demais”, mas ambas são expressões corretas e legítimas. 

Já o preconceito linguístico é a atitude de discriminar, julgar e humilhar alguém por causa dessas diferenças. Quando uma pessoa diz que um sotaque ou dialeto é “errado” ou “feio”, está praticando preconceito. Resumindo: 

  • Variação linguística: diferenças legítimas e naturais na fala. 
  • Preconceito linguístico: julgamento negativo, intolerância e discriminação. 

Qual a relação entre norma culta e o preconceito linguístico? 

A norma culta é uma convenção social que estabelece o que é considerado “língua correta” em ambientes formais, como na escrita acadêmica ou discursos oficiais. Ela ajuda a padronizar a comunicação nesses contextos. No entanto, é importante lembrar que ela não deve servir para julgar a inteligência, a educação ou o valor cultural de alguém, pois há muitas variedades linguísticas diferentes, todas válidas e legítimas. 

Infelizmente, muitas pessoas têm a ideia de que quem não segue a norma culta é “inculto” ou “sem educação”. Essa percepção é equivocada e leva ao preconceito linguístico, que exclui e marginaliza grupos sociais e regiões, além de reforçar uma visão elitista de língua e cultura. Cada variedade linguística expressa a identidade e a história de seu povo, e nenhuma é superior ou mais correta que a outra. 

Quais são as causas do preconceito linguístico?  

Entre as principais causas do preconceito linguístico podemos citar: 

  • Falta de conhecimento: muitas pessoas desconhecem a diversidade linguística e acreditam que só a norma padrão é correta. 
  • Educação desigual: sistemas de ensino que privilegiam a norma culta quase exclusivamente, marginalizando dialetos e variações regionais. 
  • Valorização de padrões eurocêntricos: a história do Brasil e do mundo foi marcada por uma dominância cultural que exclui línguas e sotaques não ocidentais. 
  • Preconceitos sociais e raciais: o discurso de superioridade de certos grupos sobre outros reforça a ideia de que certas formas de falar são “menos legítimas”. 
  • Mídia e estereótipos: personagens estereotipados ou estigmatizados em novelas, filmes e publicidade reforçam a ideia de que sotaques ou formas de expressão diferentes representam falta de educação. 
     

Vale lembrar que a compreensão dessas causas é essencial para enfrentar o preconceito na prática. 

Como funciona o preconceito linguístico no Brasil? 

O Brasil, país de grande diversidade cultural e linguística, apresenta um cenário complexo de preconceitos contra variações de fala. As regiões Norte e nordeste, por exemplo, possuem uma variedade de sotaques e dialetos que frequentemente são alvo de ridicularização ou desprezo. 

O preconceito se manifesta assim: 

  • Na fala de pessoas de outras regiões, muitas vezes associada à comédia, por exemplo; 
  • Quando há exclusão de indivíduos surdos que usam Libras em espaços públicos, até mesmo na escola, onde sua língua nem sempre é respeitada como legítima; 
  • Pessoas negras, periféricas ou indígenas com formas linguísticas desvalorizadas, associadas a estigmas sociais; 
  • Candidatos a empregos, que perdem oportunidades devido aos sotaques ou modo de se expressar. 
     

O preconceito linguístico é alimentado também por uma visão elitista de que só a fala “padrão” pertence ao “status de qualidade”. Essa concepção leva à marginalização de línguas indígenas, dialetos locais e variedades populares, muitas das quais carregam toda uma história, cultura e identidade. 

Quem sofre preconceito linguístico? 

São muitos os grupos socialmente vulneráveis à discriminação linguística. Entre eles, podemos destacar: 

  • Pessoas que moram em regiões rurais ou afastadas dos centros urbanos; 
  • Jovens e crianças de classes populares que usam gírias, expressões regionais ou dialetos; 
  • Pessoas surdas ou com deficiência auditiva que usam Libras; 
  • Indígenas e falantes de línguas indígenas, muitas vezes considerados “incultos” ou “não alfabetizados”; 
  • Imigrantes e refugiados, cuja língua materna não é o português padrão, muitas vezes enfrentando preconceitos por seus sotaques e dificuldades na fala; 
  • Adultos que, por razões históricas, tiveram acesso limitado à educação formal, sofrendo discriminação por não dominarem a norma padrão; 

Esses grupos sofrem não só na educação, no trabalho ou na sociedade, mas também na própria autoestima, muitas vezes internalizando a ideia de inferioridade devido as suas formas de falar. 

Exemplos de preconceito linguístico 

O preconceito linguístico pode se manifestar de diferentes formas na sociedade, por exemplo: 

Exemplo 1 

Um estudante de uma escola pública indígena ou rural tem dificuldades de falar e escrever seguindo a norma padrão. Mesmo assim, seu professor o trata como “inculto” e não reconhece suas potencialidades, levando-o a sentir-se inferior e desmotivado. 

Exemplo 2 

Uma candidata com sotaque nordestino é rejeitada em um processo seletivo por um recrutador que acredita que ela “não fala bem” o português, reforçando um estereótipo prejudicial. 

Exemplo 3 

Em uma reunião de negócios, um colaborador que fala com sotaque regional é interrompido frequentemente e considerado menos competente, enquanto seu colega que fala de forma “padrão” é valorizado. 

Exemplo 4 

Profissionais surdos ou deficientes auditivos que usam Libras enfrentam excluídos ou até discursos de intolerância, sendo considerados incapazes de participar plenamente na sociedade. 

Esses exemplos revelam o quanto o preconceito linguístico é presente na vida cotidiana e limita oportunidades, direitos e inclusão. 

Preconceito linguístico é crime? 

Sim. De acordo com a Lei n.º 13.146/2015, a Lei Brasileira de Inclusão, discriminar alguém pela sua língua, sotaque, ou forma de expressão é uma violação de seus direitos. Além disso, ações discriminatórias podem configurar crime de racismo ou injúria, que preveem sanções penais e civis. 

O Brasil reconhece a língua de sinais, principalmente Libras, como uma língua oficial, e a sua intolerância é considerada uma forma de racismo ou preconceito de raça e uma infração às leis de proteção aos direitos humanos. 

Quais são as consequências do preconceito linguístico? 

1. Marginalização social 

Quem sofre preconceito linguístico muitas vezes tem dificuldades de acesso à educação, ao mercado de trabalho e à participação social plena. Pessoas com sotaque ou dialeto podem ser vistas como menos inteligentes ou menos aptas, dificultando sua ascensão social. 

2. Baixa autoestima 

A pessoa discriminada pode desenvolver um sentimento de inferioridade, vergonha de seu modo de falar e ansiedade em ambientes sociais ou profissionais. 

3. Manutenção de estereótipos 

O preconceito alimenta a ideia de que há uma língua “de elite” e uma “língua de quem é inferior”, o que perpetua desigualdades e exclui grupos sociais. 

4. Obstáculos na educação 

Crianças e jovens que não dominam a norma padrão pode ser rotulados como “pessoas incultas” ou “problemas”, prejudicando seu desenvolvimento educacional e suas oportunidades futuras. 

Essa situação só reforça o ciclo de exclusão social, dificultando a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática. 

Como combater o preconceito linguístico? 

O combate ao preconceito linguístico deve ser desenvolvido em diferentes frentes, compreenda cuidados que podem ser adotados: 

1. Investir em ações educativas 

Promover ações educativas e culturais que valorizem a diversidade linguística. É importante divulgar e fortalecer o reconhecimento oficial de Libras como língua oficial do Brasil, além de valorizar dialetos e variações regionais. 

» Incluir no currículo escolar o estudo sobre a diversidade linguística e as línguas de sinais é fundamental. 

2. Estimular o respeito 

Estimular o respeito na convivência cotidiana. Treinar o diálogo e a empatia ajuda a desconstruir estereótipos e a promover a valorização das diferenças. Campanhas de conscientização e debates públicos são essenciais. 

» Investir em educação antidiscriminatória também é uma estratégia eficaz. 

3. Abordar o tema de múltiplas formas 

Utilizar obras, filmes, documentários e literatura que abordam o tema do preconceito linguístico, promovendo o entendimento de que todas as variedades da língua são legítimas e valiosas. 

4. Legislar a respeito 

Garantir políticas públicas de inclusão, acessibilidade e respeito às línguas de sinais, além de apoiar ações de formação de professores e profissionais, para que possam atuar na valorização da diversidade. 

Quais obras falam sobre preconceito linguístico? 

Existem várias obras importantes que abordam o preconceito linguístico, discutindo suas causas, consequências e a importância de valorizar a diversidade linguística. Aqui estão algumas referências relevantes: 

1. “Preconceito linguístico”, por Houaiss e Bagno 

Uma coletânea de textos e análises sobre o preconceito linguístico, com contribuições de diversos autores, incluindo Sírio Possenti, professor e linguista. 

2. “A Língua de Evita – A formação do preconceito linguístico”, por Sírio Possenti 

Trabalho que analisa como o preconceito linguístico se manifesta e suas origens sociais e culturais, usando exemplos históricos e atuais. 

3. “A Formação da Língua Brasileira” – Sírio Possenti 

Examina a história da língua brasileira e discute questões relacionadas ao preconceito linguístico e à diversidade cultural. 

4. “Variação Linguística e Ensino” – Marcos Bagno 

Discute a importância de reconhecer variedades linguísticas e combate o preconceito relacionado à linguagem dos povos e regiões. 

5. “Linguística e Preconceito” – Marcos Bagno 

Analisa o preconceito linguístico na sociedade brasileira e propõe formas de valorizar a diversidade linguística. 

Essas obras ajudam a compreender que o preconceito linguístico é uma forma de discriminação social que precisa ser combatida para promover maior respeito às diferentes manifestações linguísticas.

Conclusão

O respeito precisa estar presente no nosso dia a dia, e se você leu até aqui, é porque acredita que a diversidade e inclusão são temas cruciais a serem abordados e valorizados. Agora, convidamos você a colocar em prática cada ensinamento desse artigo no seu dia a dia e a espalhar essa informação, para que mais pessoas possam compreender o que é o preconceito linguístico.

Juntos, podemos criar um mundo onde toda comunicação é valorizada. Que tal começar hoje? Entre em contato conosco e vamos te ajudar nessa jornada de acessibilidade e inclusão.



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