O preconceito linguístico é uma das formas mais persistentes de discriminação social presente no Brasil e no mundo. Ao julgar e marginalizar formas legítimas de falar, ele reforça desigualdades históricas, afeta a autoestima e limita oportunidades educacionais e profissionais. 

No Brasil, mesmo com toda sua riqueza cultural e linguística e com variações na fala fazendo parte da identidade de milhões de pessoas, ainda assim, muitos desses modos de expressão são vistos como inferiores ou errados e continuam propagando exclusão e desigualdade.  

Entender o que é o preconceito linguístico, quais são os tipos e como funciona no cotidiano é fundamental para favorecer a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Por isso, separamos tudo sobre esse tema, vamos lá? 

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Afinal, o que é preconceito linguístico? 

O preconceito linguístico é uma forma de discriminação que consiste em julgar ou desvalorizar a fala de alguém com base na identidade, seja pelo sotaque, vocabulário, expressões regionais, dialetos ou até mesmo pelo uso de Língua de Sinais (Libras). Essa discriminação sustenta a ideia equivocada de que existe uma maneira “correta” de falar, enquanto todas as outras estão “erradas”. No entanto, vale lembrar que, na verdade, toda variação linguística reflete a história, a cultura e o contexto social de um grupo de pessoas. 

Geralmente, essa postura é naturalizada e repetida de maneiras discretas no cotidiano, como na sala de aula, no trabalho, nas mídias. Isso reforça estereótipos de inferioridade e afeta o acesso a oportunidades, a autoestima e a dignidade de milhões de pessoas no Brasil e no mundo.  

Quais são os 4 tipos de preconceito linguístico? 

Inicialmente, é importante saber que o preconceito linguístico pode acontecer de diferentes formas, afetando diversos grupos: 

  • Sotaques e dialetos regionais: pessoas de algumas regiões costumam ser vítimas de bullying ou exclusão por falar diferente da norma urbana paulista, ou carioca, considerada “padrão”; 
  • Forma de falar de crianças e jovens: gírias, construções sintáticas próprias e expressões muitas vezes usadas por jovens, são julgadas como “pobres” da língua, mesmo elas sendo uma parte natural da evolução linguística; 
  • Uso de Libras: pessoas que usam Libras, língua oficialmente reconhecida no Brasil, enfrentam resistência e exclusão, especialmente em ambientes onde a comunicação inclusiva não é valorizada; 
  • Norma culta e elitismo linguístico: o domínio da norma padrão é frequentemente usado como critério de inteligência ou competência, ideia que impacta na marginalização de pessoas com outras variedades linguísticas. 

Qual a diferença de preconceito linguístico e variação linguística? 

Variação linguística é uma característica natural da língua. Ela acontece por diversos fatores, como região, classe social, faixa etária, gênero, contexto social ou situação comunicativa. Por exemplo, é normal que uma pessoa do Rio de Janeiro diga “maneiro” e alguém de Minas Gerais diga “bão demais”, mas ambas são expressões corretas e legítimas. 

o preconceito linguístico é a atitude de discriminar, julgar e humilhar alguém por causa dessas diferenças. Quando uma pessoa diz que um sotaque ou dialeto é “errado” ou “feio”, está praticando preconceito. Resumindo: 

  • Variação linguística: diferenças legítimas e naturais na fala; 
  • Preconceito linguístico: julgamento negativo, intolerância e discriminação. 

Qual a relação entre norma culta e o preconceito linguístico? 

A norma culta é uma convenção social que estabelece o que é considerado “língua correta” em ambientes formais, como na escrita acadêmica ou discursos oficiais. Ela ajuda a padronizar a comunicação nesses contextos. No entanto, é importante lembrar que ela não deve servir para julgar a inteligência, a educação ou o valor cultural de alguém, pois há muitas variedades linguísticas diferentes, todas válidas e legítimas. 

Infelizmente, muitas pessoas têm a ideia de que quem não segue a norma culta é “inculto” ou “sem educação”. Essa percepção é equivocada e leva ao preconceito linguístico, que exclui e marginaliza grupos sociais e regiões, além de reforçar uma visão elitista de língua e cultura. Cada variedade linguística expressa a identidade e a história de seu povo e nenhuma é superior ou mais correta que a outra. 

Quais são as causas do preconceito linguístico?  

Entre as principais causas do preconceito linguístico podemos citar: 

  • Falta de conhecimento: muitas pessoas desconhecem a diversidade linguística e acreditam que só a norma padrão é correta; 
  • Educação desigual: sistemas de ensino que privilegiam a norma culta quase exclusivamente, marginalizando dialetos e variações regionais; 
  • Valorização de padrões eurocêntricos: a história do Brasil e do mundo foi marcada por uma dominância cultural que exclui línguas e sotaques não ocidentais; 
  • Preconceitos sociais e raciais: o discurso de superioridade de certos grupos sobre outros reforça a ideia de que certas formas de falar são “menos legítimas”; 
  • Mídia e estereótipos: personagens estereotipados ou estigmatizados em novelas, filmes e publicidade reforçam a ideia de que sotaques ou formas de expressão diferentes representam falta de educação.
     

Vale lembrar que a compreensão dessas causas é essencial para enfrentar o preconceito na prática. 

Como funciona o preconceito linguístico no Brasil? 

O Brasil, país de grande diversidade cultural e linguística, apresenta um cenário complexo de preconceitos contra variações de fala. As regiões Norte e Nordeste, por exemplo, possuem uma variedade de sotaques e dialetos que frequentemente são alvo de ridicularização ou desprezo. 

O preconceito se manifesta assim: 

  • Na fala de pessoas de outras regiões, muitas vezes associada à comédia, por exemplo; 
  • Quando há exclusão de indivíduos surdos que usam Libras em espaços públicos, até mesmo na escola, onde sua língua nem sempre é respeitada como legítima; 
  • Pessoas negras, periféricas ou indígenas com formas linguísticas desvalorizadas, associadas a estigmas sociais; 
  • Candidatos a empregos, que perdem oportunidades devido aos sotaques ou modo de se expressar.
     

O preconceito linguístico é alimentado também por uma visão elitista de que só a fala “padrão” pertence ao “status de qualidade”. Essa concepção leva à marginalização de línguas indígenas, dialetos locais e variedades populares, muitas das quais carregam toda uma história, cultura e identidade. 

Quem sofre preconceito linguístico? 

São muitos os grupos socialmente vulneráveis à discriminação linguística. Entre eles, podemos destacar: 

  • Pessoas que moram em regiões rurais ou afastadas dos centros urbanos; 
  • Jovens e crianças de classes populares que usam gírias, expressões regionais ou dialetos; 
  • Pessoas surdas ou com deficiência auditiva que usam Libras; 
  • Indígenas e falantes de línguas indígenas, muitas vezes considerados “incultos” ou “não alfabetizados”; 
  • Imigrantes e refugiados, cuja língua materna não é o português padrão, muitas vezes enfrentando preconceitos por seus sotaques e dificuldades na fala; 
  • Adultos que, por razões históricas, tiveram acesso limitado à educação formal, sofrendo discriminação por não dominarem a norma padrão; 

Esses grupos sofrem não só na educação, no trabalho ou na sociedade, mas também na própria autoestima, muitas vezes internalizando a ideia de inferioridade devido às suas formas de falar. 

Exemplos de preconceito linguístico 

O preconceito linguístico pode se manifestar de diferentes formas na sociedade, por exemplo: 

Preconceito linguístico na escola 

Um estudante de uma escola pública indígena ou rural tem dificuldades de falar e escrever seguindo a norma padrão. Mesmo assim, seu professor o trata como “inculto” e não reconhece suas potencialidades, levando-o a sentir-se inferior e desmotivado. 

Preconceito linguístico no processo seletivo 

Uma candidata com sotaque nordestino é rejeitada em um processo seletivo por um recrutador que acredita que ela “não fala bem” o português, reforçando um estereótipo prejudicial. 

Preconceito linguístico no trabalho 

Em uma reunião de negócios, um colaborador que fala com sotaque regional é interrompido frequentemente e considerado menos competente, enquanto seu colega que fala de forma “padrão” é valorizado. 

Preconceito linguístico contra falantes de Libras 

Profissionais surdos ou deficientes auditivos que usam Libras enfrentam excluídos ou até discursos de intolerância, sendo considerados incapazes de participar plenamente na sociedade. 

Esses exemplos revelam o quanto o preconceito linguístico é presente na vida cotidiana e limita oportunidades, direitos e inclusão. 

Preconceito linguístico é crime? 

Sim. De acordo com a Lei n.º 13.146/2015, a Lei Brasileira de Inclusão, discriminar alguém pela sua língua, sotaque, ou forma de expressão é uma violação de seus direitos. Além disso, ações discriminatórias podem configurar crime de racismo ou injúria, que preveem sanções penais e civis. 

O Brasil reconhece a língua de sinais, principalmente Libras, como uma língua oficial, e a sua intolerância é considerada uma forma de racismo ou preconceito de raça e uma infração às leis de proteção aos direitos humanos. 

Quais são as consequências do preconceito linguístico? 

1. Marginalização social 

Quem sofre preconceito linguístico muitas vezes tem dificuldades de acesso à educação, ao mercado de trabalho e à participação social plena. Pessoas com sotaque ou dialeto podem ser vistas como menos inteligentes ou menos aptas, dificultando sua ascensão social. 

2. Baixa autoestima 

A pessoa discriminada pode desenvolver um sentimento de inferioridade, vergonha de seu modo de falar e ansiedade em ambientes sociais ou profissionais. 

3. Manutenção de estereótipos 

O preconceito alimenta a ideia de que há uma língua “de elite” e uma “língua de quem é inferior”, o que perpetua desigualdades e exclui grupos sociais. 

4. Obstáculos na educação 

Crianças e jovens que não dominam a norma padrão podem ser rotulados como “pessoas incultas” ou “problemas”, prejudicando seu desenvolvimento educacional e suas oportunidades futuras. 

Essa situação só reforça o ciclo de exclusão social, dificultando a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática. 

Como combater o preconceito linguístico? 

O combate ao preconceito linguístico deve ser desenvolvido em diferentes frentes, compreenda cuidados que podem ser adotados: 

1. Investir em ações educativas 

Promover ações educativas e culturais que valorizem a diversidade linguística. É importante divulgar e fortalecer o reconhecimento oficial de Libras como língua oficial do Brasil, além de valorizar dialetos e variações regionais. 

» Incluir no currículo escolar o estudo sobre a diversidade linguística e as línguas de sinais é fundamental. 

2. Estimular o respeito 

Estimular o respeito na convivência cotidiana. Treinar o diálogo e a empatia ajuda a desconstruir estereótipos e a promover a valorização das diferenças. Campanhas de conscientização e debates públicos são essenciais. 

» Investir em educação antidiscriminatória também é uma estratégia eficaz. 

3. Abordar o tema de múltiplas formas 

Utilizar obras, filmes, documentários e literatura que abordam o tema do preconceito linguístico, promovendo o entendimento de que todas as variedades da língua são legítimas e valiosas. 

4. Legislar a respeito 

Garantir políticas públicas de inclusão, acessibilidade e respeito às línguas de sinais, além de apoiar ações de formação de professores e profissionais, para que possam atuar na valorização da diversidade. 

Quais obras falam sobre preconceito linguístico? 

Existem várias obras importantes que abordam o preconceito linguístico, discutindo suas causas, consequências e a importância de valorizar a diversidade linguística. Aqui estão algumas referências relevantes: 

  • “Preconceito linguístico: o que é, como se faz”, por Marcos Bagno: é uma obra de autoria do professor, linguista e filólogo Marcos Bagno, que aborda o preconceito linguístico em diferentes contextos;
  • “Racismo linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo”, por Gabriel Nascimento: trata-se de um livro que explora a linguagem como uma ferramenta que cria, espalha e fortalece o racismo; 
  • “Preconceito e intolerância na linguagem”, por Marli Quadros Leite: aborda a intolerância linguística como uma ofensa ao indivíduo e sua singularidade, intensificando preconceitos;  
  • “Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro”, por Marcos Bagno: ao longo da obra o autor defende fenômenos linguísticos que são considerados errados por jornalistas, gramáticos e afins;
  • “Sete erros aos quatro ventos: a variação linguística no ensino do português”, por Marcos Bagno: trata-se de uma obra que investiga os livros didáticos e sua abordagem em relação à variação linguística.

Essas obras ajudam a compreender que o preconceito linguístico é uma forma de discriminação social que precisa ser combatida para promover maior respeito às diferentes manifestações linguísticas.

Conclusão

O respeito precisa estar presente no nosso dia a dia e, se você leu até aqui, é porque acredita que a diversidade e inclusão são temas cruciais a serem abordados e valorizados. Agora, convidamos você a colocar em prática cada ensinamento deste artigo no seu dia a dia e a espalhar essa informação, para que mais pessoas possam compreender o que é o preconceito linguístico.

Juntos, podemos criar um mundo onde toda comunicação é valorizada. Que tal começar hoje? Entre em contato conosco e vamos te ajudar nessa jornada de acessibilidade e inclusão.



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