É um grande desafio garantir a acessibilidade em eventos culturais no Brasil. Um dos motivos é a falta de conhecimento sobre as melhores práticas para disponibilizar um acesso pleno às pessoas com deficiências.

Por outro lado, já existem várias iniciativas que priorizam a acessibilidade em espetáculos culturais no País. 

Neste artigo, vamos apresentar o conceito de acessibilidade cultural e destacar ações e benefícios de promovê-la de maneira estratégica. Confira!

O que é acessibilidade cultural?

Consiste na ação de derrubar barreiras que dificultam a participação de pessoas com deficiência em eventos artísticos. A acessibilidade cultural abrange adaptações físicas, sensoriais e comunicacionais, como:

  • Disponibilizar para os cadeirantes rampas e elevadores;
  • Contar com intérpretes de libras para surdos;
  • Fornecer a audiodescrição para cegos;
  • E distribuir materiais em braile e letra ampliada para os que têm problemas de visão.

Ao promover a acessibilidade em eventos culturais, temos uma sociedade mais democrática e mais aberta a conviver com a diversidade. Um bom exemplo disso é a trajetória de Bibi Amorim, a única bailarina cadeirante de Alagoas.

Mesmo com uma trajetória de sucesso, ela disse, em entrevista ao Portal G1, que o direito ao lazer não é totalmente pleno para as Pessoas com Deficiência (PCD), sigla que envolve cidadãos com problemas de ordem física, auditiva, visual, intelectual, psicossocial ou múltiplas.

“Ainda falta olhar pro PCD como uma pessoa que também consome arte, que também sai, se diverte e não vive só numa bolha. A falta de acessibilidade também é um dos motivos pelos quais muitos PCDs acham que não vale a pena sair de casa”, destacou a bailarina na entrevista.

Em Maceió (AL), foram criados camarotes PCD nas festas de São João. Para a bailarina Bibi Amorim, é uma ação positiva, mas a acessibilidade cultural precisa ser priorizada em qualquer época do ano. “Os teatros não têm acessibilidade! (Um deles não tem na plateia, o outro não tem no camarim)”, comentou a bailarina em entrevista.

Em artigo para o site Correio da Manhã, a audiodescritora Patricia Santiago disse que um dos principais obstáculos para a acessibilidade cultural é a ausência de intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais) em eventos culturais, programas de televisão e palestras.

Apesar das dificuldades, Patrícia destaca que está otimista com relação ao crescimento da acessibilidade em eventos culturais públicos no Brasil. “Cada vez mais as instituições culturais estão se esforçando para oferecer experiências inclusivas, como exposições táteis e sessões de cinema com audiodescrição. Além disso, a conscientização sobre a importância da acessibilidade está crescendo”, afirmou a audiodescritora.

Qual a importância da acessibilidade em eventos?

A ausência de acessibilidade em eventos culturais é um problema mais sério do que muitos imaginam. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem aproximadamente 14,4 milhões de pessoas com alguma deficiência.

Esse número corresponde a 7,3% da população brasileira, que é de 198,3 milhões de pessoas, segundo o IBGE. Com certeza, é uma parcela considerável de cidadãos que precisam de um olhar atento para ter acesso pleno à cultura.

Com a intenção de criar um cenário mais favorável para as PCDs, foi criada a Lei Brasileira de Inclusão (LBI – nº 13.146/2015). Essa legislação estabelece que os espaços culturais precisam disponibilizar condições de acesso para todos.

Além disso, prevê que eventos sem procedimentos de adaptação para pessoas com deficiência podem sofrer penalidades. Sem dúvida, não seguir essa legislação é um fator que prejudica bastante a imagem, principalmente, pelo fato de que a inclusão é algo cada vez mais valorizado na sociedade.

Não é à toa que a acessibilidade em eventos também envolve o direito à cidadania. Para um espetáculo ser inclusivo, é fundamental seguir uma série de princípios.

Um deles é a equidade, que garante a todos o mesmo direito de acesso aos eventos culturais. O segundo é a diversidade, possibilitando aos cidadãos compartilhar a mesma experiência sem restrições.  

Nos eventos culturais públicos, promover a inclusão contribui para gerar um maior engajamento perante os stakeholders

Em entrevista ao Portal ABC, Victor Gastar, intérprete de Libras que participou da Virada Cultural de São Paulo de 2025, destacou a importância da acessibilidade nos eventos. “Quando interpretamos uma canção, proporcionamos emoções semelhantes às sentidas pelos ouvintes. É uma conexão profunda com a música”, enfatizou Victor.

Mais uma medida voltada para a acessibilidade cultural em eventos é o Teatro Acessível, que adota medidas para facilitar a entrada de pessoas com deficiência em espetáculos teatrais.

Essa modalidade de teatro também se caracteriza por fornecer recursos de comunicação que contribuem para cegos, surdos e mudos interagirem com a peça de forma efetiva.

No dia 19 de setembro, é comemorado o Dia Nacional do Teatro Acessível. Essa data foi idealizada pela Organização Não Governamental (ONG) Escola da Gente.

A iniciativa tem como meta gerar uma maior consciência sobre a necessidade de proporcionar mais autonomia e participação de pessoas com deficiência, baixo letramento ou mobilidade reduzida em espetáculos teatrais.

Quais são os benefícios da acessibilidade em eventos culturais?

Não faltam motivos para investir em acessibilidade em eventos culturais. Afinal, ações inclusivas colaboram fortemente para que organizações públicas e privadas tenham uma avaliação mais positiva perante os stakeholders.

Para você entender melhor os benefícios de investir em acessibilidade no meio cultural, vamos listar os mais importantes. Confira:

  • Ampliar a participação do público: por meio de medidas que permitem que idosos, pessoas com deficiência e familiares possam frequentar eventos culturais com mais frequência;
  • Possibilitar que os espetáculos culturais tenham mais participantes:  o que contribui aumentar a diversidade e a visibilidade do evento;
  • Seguir corretamente a legislação: respeitando as regras da LBI e de outras normas ligadas à acessibilidade cultural reduz os riscos de multas e processos;
  • Beneficia a imagem da empresa: estar de acordo com a legislação colabora para gerar uma imagem mais positiva da organização dos eventos perante os órgãos governamentais e patrocinadores;
  • Fortalecer a diversidade e a inclusão: possibilitando o emprego de novas maneiras de expressão artística, como peças teatrais com audiodescrição e shows com intérpretes de Libras;
  • Construção de networking: promover eventos acessíveis aumentam as chances de contar com artistas e palestrantes que estão conectados com a causa da inclusão;
  • Conexão com o público: proporcionar uma melhor experiência para o público, promovendo eventos que alcancem pessoas com deficiência, gestantes, idosos e até turistas estrangeiros.

“Promover a acessibilidade em eventos é crucial para garantir a inclusão de todas as pessoas. Isso não apenas atende a requisitos éticos e legais, mas também amplia a participação, diversidade e experiência positiva dos participantes”, afirmou Ana Motta, CEO da AllDub Estúdio em entrevista ao Meio&Mensagem.

Como promover acessibilidade em eventos culturais?

Não há dúvidas de que investir na acessibilidade em eventos culturais proporciona vantagens marcantes para uma organização.

Por outro lado, é fundamental conhecer procedimentos sobre como atingir a acessibilidade de forma ampla.

Pensando nisso, vamos mostrar dicas práticas para você alcançar esse objetivo em um evento. Acompanhe!

Disponibilize recursos de comunicação inclusiva

Se realmente deseja promover um evento inclusivo, é necessário, por exemplo, contar com o suporte de intérpretes de libras. No caso de espetáculos teatrais e exposições, a recomendação é utilizar a audiodescrição.

Caso o evento tenha vídeos e projeções, vale a pena incluir legendas. Também não se esqueça de fornecer materiais em braile ou com fonte ampliada. O ICOM é uma plataforma de interpretação online em Libras que conecta equipes e promove inclusão de pessoas surdas no ambiente de trabalho.

Promova a adaptação do espaço físico

Para uma acessibilidade em eventos culturais ampla, é muito importante contar com rampas, elevadores e banheiros acessíveis. Além disso, garanta a existência de espaços para cadeirantes nas proximidades dos palcos.

Outra medida é instalar pisos táteis para facilitar a locomoção de pessoas com deficiência visual. O ideal é também sinalizar com clareza os ambientes com placas em alto relevo e contraste.

Treine a equipe com atenção

Para atender as pessoas com deficiência de maneira correta e respeitosa, o melhor caminho é capacitar produtores, seguranças e atendentes de maneira planejada.

Nesse sentido, é imprescindível que a equipe receba orientações sobre como guiar cegos, interagir com surdos e prestar assistência aos cadeirantes. Outra prática recomendada é contar com monitores de acessibilidade durante o espetáculo cultural.

Adote a tecnologia assistiva

O avanço tecnológico é um grande aliado na acessibilidade em eventos culturais. Afinal, é possível utilizar apps com navegação de voz para cegos.

Também é possível empregar dispositivos de amplificação sonora que auxiliam pessoas com problemas de audição.

Outra boa iniciativa é adotar sistemas de reserva online acessíveis que oferecem descrição de imagens e leitura de tela.

Priorize a divulgação com boas práticas de acessibilidade

Antes de começar o evento, adote medidas com foco em uma divulgação mais acessível. Pensando nisso, vale a pena criar anúncios em vídeo com libras e legendas.

O site do evento também precisa ser compatível com leitores de tela. Outra recomendação é fornecer informações antecipadas e corretas sobre os recursos de acessibilidade que farão parte do espetáculo cultural.

Conclusão

A acessibilidade em eventos culturais é indispensável para promover mais inclusão e diversidade de forma plena. Afinal, o Brasil um grupo considerável da população é composto por pessoas com deficiência.

Ao seguir boas práticas com foco em acessibilidade cultural, uma organização mostra uma maior conexão com as demandas sociais, o que é muito importante para melhorar a imagem e a reputação. Se deseja priorizar boas práticas de responsabilidade social, confira como funcionam nossas plataformas voltadas para o cumprimento da lei de cotas  e a inserção de colaboradores surdos na sua organização.

outros posts

O que a empresa ganha contratando PCD auditivo?

O que a empresa ganha contratando PCD auditivo?

O que a empresa ganha contratando PCD não se limita a cumprir metas e legislações vigentes. Uma vez que o ganho está em criar ambientes onde a diversidade é entendida como valor. Como afirma Rosângela Berman Bieler, referência internacional em direitos das pessoas com...

Processo seletivo inclusivo: como recrutar profissionais surdos

Processo seletivo inclusivo: como recrutar profissionais surdos

Descobrir como criar um processo seletivo mais inclusivo é o jeito certo de promover a diversidade, fortalecer a cultura organizacional e impulsionar a inovação na sua empresa. No entanto, a inclusão de pessoas com deficiência, especialmente surdos, exige adaptações e...

Solicite uma demonstração agora

Cadastre-se para receber a versão demo do app do ICOM

Nossa localização

Rua Serra de Botucatu, 1197  Tatuapé – 03317-001
São Paulo/SP

Contato

(11) 2360-8900

Fale com a gente

contato-icom@ame-sp.org.br

Baixe o app