A acessibilidade arquitetônica é muito mais que um conjunto de normas para o qual os arquitetos precisam estar atentos ao idealizar um projeto.

De acordo com o Decreto nº 5.296/2004, acessibilidade é a “condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida”.

Segundo a arquiteta Keyla Valadão, “como arquiteta, eu vejo a acessibilidade não como um item técnico, mas como um compromisso ético com a inclusão. Quando pensamos na acessibilidade desde o início do projeto, criamos espaços mais democráticos, acolhedores e que respeitam a dignidade de todos.”

Ou seja, a acessibilidade vai muito além de promover um ambiente em conformidade com as normas. Consiste em ter um espaço empresarial acolhedor e que respeita funcionários e clientes com necessidades especiais. Diante da relevância, trouxemos algumas orientações que precisam ser respeitadas para construir um empreendimento acessível.

O que é acessibilidade arquitetônica?

A acessibilidade arquitetônica tem como objetivo eliminar barreiras que impeçam a circulação e o uso de espaços. Isso inclui adaptações que beneficiam pessoas com deficiência, mobilidade reduzida ou necessidades específicas, como idosos, gestantes e crianças.

Um prédio acessível é, portanto, aquele que tem rampas de acesso, banheiros adequados para o uso de cadeirantes, pisos táteis, calçada nivelada e outros recursos que o tornam acessível para funcionários e clientes com necessidades especiais.

Tendo em vista que, a acessibilidade arquitetônica não se limita à adaptação do espaço para atender PCDs. Todas as pessoas que possuem alguma limitação devem ser consideradas ao projetar um ambiente acessível, que se torne seguro para idosos, crianças, gestantes e outras pessoas com necessidades especiais.  

Quais podem ser exemplos de acessibilidade arquitetônica?

Existem diferentes soluções que podem ser aplicadas nas cidades, visando promover acessibilidade arquitetônica. Entre elas:

Rotas e rampas acessíveis

Rotas acessíveis são aqueles caminhos que são totalmente livres de barreiras, que permitem a livre circulação de pessoas com segurança, mesmo que esses transeuntes tenham deficiência ou mobilidade reduzida.

Essas rotas podem contar com rampas acessíveis, para que cadeirantes possam circular no local. Além disso, é importante garantir áreas de descanso em trajetos muito longos, oferecendo conforto a quem utiliza cadeira de rodas, muletas ou tem dificuldade de locomoção.

Banheiros acessíveis

Banheiros precisam ser projetados visando promover a autonomia dos usuários. Para tal, é necessário ter portas largas, barras de apoio ao lado do vaso sanitário que precisa ser posicionado na altura adequada.

Também é necessário ter espaço suficiente para o giro completo da cadeira de rodas, pias em alturas adequadas e livre de armários que impeçam o acesso frontal.

O espelho também precisa estar inclinado ou posicionado em altura adequada para possibilitar a visualização de diferentes usuários.

Sinalização e comunicação

A sinalização acessível vai além das placas visuais: deve considerar também elementos táteis e sonoros. Isso inclui o uso de pisos táteis (alerta e direcional), placas com escrita em Braille, mapas táteis em grandes ambientes, elevadores com botoeiras em Braille e indicação sonora de andares.

Essas medidas permitem que pessoas com diferentes tipos de deficiência possam se orientar e se comunicar com segurança no ambiente.

Para além da estrutura física, a comunicação inclusiva é essencial. Converse com o ICOM sobre acessibilidade em Libras e transforme a interação com colaboradores e clientes surdos.

Vagas de estacionamento

As vagas acessíveis precisam ser localizadas próximas às entradas principais, além de exigirem dimensões ampliadas, com 2,50 m de largura e 1,20 m de faixa de acesso lateral para PCD.

A vaga precisa ser claramente identificada com o símbolo de acessibilidade no piso e por meio de uma placa vertical. A faixa lateral permite a abertura total da porta para que o cadeirante possa descer do veículo sem nenhum obstáculo que impeça o deslocamento.

Elevadores e plataformas elevatórias

Os elevadores são elementos-chave em prédios de múltiplos pavimentos. Para serem acessíveis, precisam ter dimensões internas adequadas (mínimo de 1,10 m x 1,40 m), botoeiras posicionadas em altura acessível (entre 0,90 m e 1,20 m do piso), sinalização em Braille e áudio para indicar andares.

Nos locais onde não é possível instalar um elevador, pode-se recorrer a plataformas elevatórias, que cumprem função semelhante e garantem a mobilidade vertical de pessoas com deficiência física. A manutenção da plataforma é fundamental para um uso seguro.

Portas e corredores amplos

A largura mínima recomendada para portas acessíveis é de 80 cm, permitindo a passagem de cadeiras de rodas sem dificuldade. Já os corredores devem ter largura mínima de 1,20 m para permitir circulação em linha reta, e 1,50 m em áreas de giro ou mudança de direção.

Além disso, é importante evitar obstáculos no vão, como o uso de vasos decorativos, lixeiras ou móveis que reduzam a passagem, já que isso pode dificultar ou até impedir o deslocamento de usuários com mobilidade reduzida.

Portanto, se o espaço é muito amplo e o objetivo é criar pontos de descanso, é preciso garantir que a colocação de um banco não elimina espaço de circulação.

Mobiliário acessível

O mobiliário urbano e interno também deve ser pensado de forma inclusiva. Isso significa balcões de atendimento rebaixados para cadeirantes, assentos reservados em salas de espera, caixas de supermercado com largura adequada, bebedouros em diferentes alturas e telefones públicos adaptados.

Em praças e parques, bancos acessíveis, mesas com espaço livre inferior e equipamentos de lazer adaptados contribuem significativamente para promover a inclusão.

Quais são as barreiras arquitetônicas?

Em termos de barreiras arquitetônicas comuns no cotidiano urbano, Keila comenta que 

“muitas vezes, os espaços são projetados apenas para cumprir normas, sem uma real preocupação com a experiência do usuário com deficiência. Além disso, enfrentamos entraves como a falta de fiscalização, orçamentos apertados e até mesmo uma cultura que ainda não valoriza o design universal como parte essencial do projeto”. 

Entenda a seguir algumas das principais barreiras que se repetem em diferentes cidades brasileiras:

Ausência de faixas de pedestres

Quando não há faixas de pedestres bem demarcadas e em locais estratégicos, a travessia se torna arriscada para qualquer pessoa, mas especialmente para aquelas com mobilidade reduzida.

A situação é especialmente mais grave quando não há rampas de acesso nas calçadas, resultando em verdadeiros “degraus” entre a rua e o público que circula no local. Pessoas em cadeiras de rodas, com carrinhos de bebê ou com limitações motoras acabam enfrentando barreiras que as obrigam a percorrer trajetos mais longos ou a arriscar a segurança ao atravessar em locais inadequados.

Dificuldade de acesso e uso de prédios

Muitos edifícios, públicos ou privados, ainda apresentam obstáculos arquitetônicos que inviabilizam o acesso de diferentes perfis de usuários. Como é o caso de só contar com escadaria para o atendimento no pavimento superior, impedindo que uma pessoa com mobilidade reduzida suba até o ponto de atendimento.

Bem como, a presença de portas estreitas, balcões muito altos ou ausência de banheiros acessíveis acabam sendo barreiras importantes que impedem a entrada e permanência com autonomia.

Limitação de acesso ao transporte

Ônibus sem elevadores ou plataformas elevatórias, vagões de trem sem espaço reservado para cadeiras de rodas, ausência de assentos preferenciais bem sinalizados e pontos de embarque sem rampas ou abrigos acessíveis tornam o deslocamento urbano um desafio.

Em resumo, esse tipo de barreira limita a independência de quem depende do transporte público para trabalhar, estudar ou acessar serviços básicos.

Falta de sinalização adequada

A ausência de sinalização acessível afeta, sobretudo, pessoas com deficiência visual ou auditiva. Ambientes sem placas em Braille, sem pisos táteis ou com informações pouco claras dificultam a orientação.

A inexistência de semáforos sonoros, por exemplo, coloca em risco pedestres cegos ao atravessar vias movimentadas. Essa barreira de comunicação acaba se refletindo em insegurança e exclusão.

Piso irregular ou escorregadio

O piso irregular ou escorregadio prejudica pessoas cegas, cadeirantes, crianças e idosos que não conseguem circular no local com segurança. Infelizmente as calçadas quebradas, buracos e pisos danificados são parte do cotidiano das cidades.

Esses obstáculos aumentam o risco de quedas e acidentes, especialmente entre idosos, pessoas com deficiência motora ou visual e gestantes.

Como implementar a acessibilidade arquitetônica da minha empresa?

Ciente da importância de implementar a acessibilidade arquitetônica em sua empresa para que ela seja inclusiva para profissionais e colaboradores, confira algumas dicas práticas de como fazê-lo:

1.      Avalie o panorama atual

Tudo começa a partir da análise de como está a empresa na atualidade. O banheiro é acessível? Existem vagas identificadas para idosos, cadeirantes e gestantes? Observe todos os aspectos de sua organização, com o intuito de identificar os pontos que demandam melhorias.

De modo que, seja possível planejar reformas pontuais e mudanças mais simples, como a simples pintura de uma vaga para defini-la como específica para idosos ou deficientes.

2.      Planeje mudanças

As mudanças arquitetônicas necessárias precisam ser planejadas, para que a reforma a ser realizada não impacte no funcionamento diário da empresa. Bem como, para que seja possível planejar os aspectos financeiros.

Uma vez que, é necessário fazer alguns investimentos e planejar as mudanças, com o intuito de que o orçamento da empresa não seja prejudicado pela necessidade de ajustar o imóvel para que ele seja mais acessível.

3.      Implemente as mudanças necessárias

Com um planejamento detalhado de quais serão as mudanças necessárias, é hora de levantar os custos das mudanças e implementar os ajustes em seu imóvel conforme o planejado.

É possível fazer a mudança aos poucos, visando que o funcionamento da empresa não seja negativamente impactado pela necessidade de pequenas reformas.

4.      Considere a acessibilidade do entorno de seu ponto comercial

Se a empresa está em crescimento ou tem planos de mudar de ponto comercial, um aspecto importantíssimo é considerar a acessibilidade na região.

Ter vagas de estacionamento para os clientes nas proximidades, uma calçada acessível e boa sinalização é fundamental. Dessa forma, a empresa não investe somente nas mudanças do prédio comercial. 

Afinal, não adianta ter um imóvel acessível com rampas, banheiro adequado e corredores largos para a passagem de cadeira de rodas se o cliente precisa estacionar muito longe a calçada até seu empreendimento está quebrada.

Quando a acessibilidade é um compromisso da empresa, é importante analisar os aspectos do ponto comercial em seu interior e também em seu exterior.

Conclusão

A acessibilidade arquitetônica é extremamente importante para empresas de todos os setores, que podem atender com segurança a população como um todo, proporcionando um espaço inclusivo e acessível.

Mais que respeitar as regras vigentes na legislação, a acessibilidade promove uma empresa empática, acolhedora e confiável para seu público.

Entenda como cumprir a Lei de Cotas com apoio do ICOM e garanta que sua empresa avance em inclusão e conformidade legal. Este conteúdo foi produzido em coautoria com a Arquiteta Keyla Valadão, especialista no segmento de Food Service. Com mais de 100 projetos executados e mais de 30 consultorias estratégicas para bares, cafeterias e restaurantes, Keyla atua com foco em eficiência, experiência do usuário e viabilidade operacional.

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